sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Esquecemos a TV?! Como anda o nosso dia-a-dia...

Completamos mais de três meses sem acesso a canais abertos ou fechados de televisão aqui em casa... e, por incrível que pareça, já esquecemos dela, de como era e como a gente ficava preso naquela tela a maior parte do nosso tempo em casa. Isso são águas passadas...

Acordamos sem ela e assim continuamos o resto do dia e da noite. E o mais legal é a naturalidade com que as crianças a esqueceram, principalmente o Yuri, que ficava muito dependente dos desenhos animados... Agora ele acorda e corre para brincar com a cachorra, ou fazer poções mágicas que lhe dão superpoderes, ou desenhar monstros... Dias atrás levantei da cama e o ouvi brincando SOZINHO entre a cozinha e o quintal. Estava ele com um copinho de plástico conversando alegremente com ele mesmo (ou seria com nossa cachorra Otsu?), sobre os poderes mágicos de uma poção que estava deixando ele bem forte... Pode parecer bobagem, mas acho que isso seria difícil de acontecer na época da televisão, pois o Yuri não brincava sozinho! Se não tinha alguém para brincar, ele assistia TV... se a gente "mandava" ele brincar, ele solicitava a nossa presença o tempo todo... se não tinha TV, ficava entediado... E, com apenas três meses sem a televisão, isso mudou completamente...


Agora, a maior parte do tempo, Yuri e Luana inventam brincadeiras juntos ou sozinhos. Brincadeiras mesmo, de faz-de-conta, de jogos de tabuleiro, de pintura ou de música.

Luana tem se esbaldado em suas explorações. Ela adora aventurar-se em seu guarda-roupa atrás de um sapato, de uma roupa ou de um brinquedo... e isso significa, frequentemente, tirar tudo o que tem dentro do armário... E quando a gente chega para ver o que está acontecendo, ela na maior felicidade diz: "olha o que eu achei!". Outra coisa que a atrai bastante é água ou tinta, então, se ela estiver em silêncio por algum tempo e ela não estiver no guarda-roupa, podemos procurá-la pelo banheiro ou perto das tintas. No banheiro, ela costuma dar banho de pia em algum brinquedo ou ver a pasta de dente ou o creme de cabelo escorrer pelo buraco da pia... sim, sim, ela aperta e deixa escorrer... (E é nesses horas que tenho vontade de "apertar seu pescocinho", quem leu o post sobre punição, sabe do que estou falando, quem não leu, pode ler por aqui.). Com as tintas é meio imprevisível a tela que ela pode escolher para pintar, às vezes um papel, outras, uma parede, e outras ainda, o seu próprio corpo como experimento. Fico admirada com sua criatividade e capacidade de explorar diferentes possibilidades de usar uma tinta...


Nossa rotina mudou? Muito! Mas como disse, nos acostumamos muito naturalmente com o dia-a-dia sem a TV e vemos o quanto isso fez diferença na criatividade das crianças... Imagino algumas pessoas comentando a bagunça que a nossa casa se transformou. Na verdade, desligar a TV foi um pontapé na nossa transformação... mudamos não só a televisão de lugar, como mudamos também nossos princípios, nossas prioridades e nossa concepção de bagunça... No meu entendimento, nossa casa ficou mais viva, mais colorida e mais livre... E eu e meu marido tentamos todo dia, a toda hora, nos tornarmos pais menos autoritários e menos donos de tudo. Nossos filhos conquistaram mais autonomia e controle sobre os espaços (e isso é um aprendizado diário, às vezes difícil de ser compreendido por nós, adultos). É muito mais fácil não deixar a filha jogar as roupas todas sobre a cama para escolher a que mais lhe agrada naquele momento, é muito mais fácil colocar a roupinha mais bonitinha e que mais combina com o gosto da mãe do que ver sua filha usar o mesmo vestidinho vermelho e branco dias a fio, é muito mais fácil nem abrir o guarda-roupa e nem deixar sua filha entrar no próprio quarto... mas tudo isso, apesar de mais fácil também é muito mais autoritário, impositor, triste e desestimulante. Autonomia se aprende na prática diária. Acredito que, ao deixar minha filha mexer em seu guarda-roupa, estou de certa maneira, ensinando-a que ela tem capacidade e liberdade de escolha e que escolhas têm consequências... nesse caso, ter que arrumar a bagunça depois (com nossa ajuda) e ter que esperar pelo menos três dias para usar o vestido de novo, pois ele suja, precisa lavar, secar e passar (kkkkkkkk).

Enfim, o que queria dizer é que, ao desligar a televisão visando dentre outras coisa, diminuir a exposição dos nossos filhos (e nossa) à cruel fábrica de consumismo, acabamos descobrindo um mundo novo, mais alegre, mais bonito, mais bagunçado e muito mais real. Literalmente, aqui estamos todos colocando mais a mão na massa, seja em massinhas de modelar, seja em tintas, seja fazendo pães, coxinhas, saladas de frutas, dentre outras coisas gostosas, porque sem televisão sobra tempo para outros experimentos.