quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A fuga e a volta do filho

Quando meu filho tinha 1 ano e meio de idade, ele "fugiu" de casa. Meu marido esqueceu o portão aberto. E quando fui procura-lo, ele não estava dentro de casa. Ainda sinto medo e desespero quando lembro de quando vi o portão aberto. De duas uma: ele foi raptado ou atropelado. P â n i c o. Assim que saímos de casa, avistamos ele conversando com uma senhora vizinha, três casas abaixo da nossa. Não a conhecíamos, mas ela sabiamente "segurou" aquele bebê serelepe e comunicativo com ela até que alguém aparecesse. Salve Dona Valkiria.


11 anos depois. Ontem. Fui levar esse mesmo menino para sua aula de computação.
Deixei ele na esquina da escola, como de costume. E combinei de buscá-lo dali uma hora e meia.
Voltei para casa. E 20 minutos depois o interfone tocou insistentemente. Ao abrir, me deparei com ele. Meu filho. Como assim!!?? E na hora me lembrei que hoje não tinha aula. Feriado. E eu tinha me esquecido totalmente do recado que recebi da escola pelo Whatsapp. Ele ainda não tem celular.
Escola fechada. E o que ele fez? Voltou a pé e sozinho para casa.
Ainda estou lidando com a culpa de ter esquecido que não tinha aula e com o fato dele ter tido que lidar com a situação sem preparação e apoio.
Mas que emoção e quanto orgulho dele. Ele cresceu. Está caminhando para sua independência. E sabe voltar para a casa. Sozinho.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A Doula e a Equipe




A doula é aquela que vai estar ali, bem perto da mulher (se ela assim desejar), quase como uma extensão do seu próprio corpo, lhe amparando, lhe dando suporte, cuidando do entorno bem de perto.

A boa equipe é aquela que está ali, por perto, observando, acompanhando, avaliando de tempo em tempo, mas quase imperceptível no ambiente (a não ser que a mulher solicite). E a segurança vem desse acompanhamento não invasivo mas presente.

A doula complementa e auxilia o trabalho da equipe. A equipe garante a segurança e o acompanhamento do parto para que a doula possa ter a tranquilidade para oferecer o seu suporte. 

Com a doula, a equipe pode focar no trabalho técnico e sair de cena. Geralmente, em partos sem doula, a equipe fica sobrecarregada por uma demanda da mulher de suporte afetivo e presença constante.

Nem a doula, nem a equipe, substituem o papel afetivo d@ acompanhante.

(Foto de Kelly Mamede, gentilmente autorizada por Mariene Perobelli)

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Entranhas do Parto

Parir é verbo concreto
Feito de corpo, carne e sangue
Parir é presente e presença
Feito de espera, tempo e ritmo
Parir é estiramento
Feito de nervos, ligamentos, ossos
Parir é um escancarar-se
Feito de sons, intimidade, alma
Parir é êxtase
Feito de força, exaustão e gozo
Parir é lambuzar-se
Feito de secreções, lágrimas, vernix
Parir é poesia concreta
Feito de corpo, carne e sangue




Alma do Parto









Todo parto tem História, tem corpo e tem Portal
Mas tem parto... ah... tem parto que a Alma transparece
A alma do Parto

É simples assim...

A Alma chega
Se acomoda
E fica... ali, quase palpável
Inteira e Presente
No parto

Dias desses foi assim

Parto Domiciliar
A mulher, entregue a seu corpo e aberta para sentir a intensidade do momento
O homem, servindo de âncora com o terreno e o espiritual
Protetor do fogo, da água e do ninho
Um tambor, um canto e um carinho
A equipe silenciosa. Olhar atento mas discreto. Técnica minimalista mas precisa.
E a alma ali. Quase sorrindo.

Parto tem cheiro e tem som
Esse tinha cheiro de amanhecer
E barulho de água fervendo e cachoeira

Às vezes, parto tem muito gemido
Às vezes, tem música
Às vezes, tem silêncio
Esse parto teve história... do primeiro beijo
Da conquista e de sonhos

A alma gosta de histórias

Foi um parto rápido, suave e leve

Penso cá comigo que a Alma gostou tanto quanto eu
De estar ali, presente, reverenciando o Nascimento

sábado, 3 de agosto de 2019

Ervas Daninhas

Não tem jeito
A poeira volta
A louça suja
Ervas daninhas crescem
Não tem como evitar
A gente pode tentar esconder, camuflar ou até não ligar
Fato é que essas coisas existem
Na Casa
Na Vida
Nos Relacionamentos
E vez ou outra a gente se incomoda e
Ou reclama
Ou esbraveja
Ou chora
Ou limpa
Tenho aprendido cada vez mais a sentir vontade (e prazer) em limpar
Hoje foi assim


domingo, 19 de maio de 2019

A gente está em reforma



Há algum tempo
Reforma que o tempo pede
Pelo uso cotidiano
Pelo desgaste natural

A gente está em reforma

Viver tem disso
Conviver tem mais ainda
Do tempo passar
Do usar
Do transformar
Do ser preciso reinventar

A gente está em reforma

Há algum tempo
Vendo o tempo passar
Juntos
E a necessidade de transformar
Juntos
O que o tempo mudou
O que já não é
Para deixar vir
O que ainda queremos ter/ser
Juntos

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O Chapéu Violeta

Aos 3 anos:
Ela olha pra si mesma e vê uma rainha.
Aos 8 anos:
Ela olha para si e vê Cinderela.
Aos 15 anos:
Ela olha e vê uma freira horrorosa.
Aos 20 anos:
Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.
Aos 30 anos:
Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.
Aos 40 anos:
Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.
Aos 50 anos:
Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.
Aos 60 anos:
Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.
Aos 70 anos:
Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida.
Aos 80 anos:
Ela não se incomoda mais em se olhar. Põe simplesmente um chapéu violeta e vai se divertir com o mundo.
Talvez devêssemos por aquele chapéu violeta mais cedo!
Trecho de um texto de Erma Bombeck, escrito quando ela descobriu que estava morrendo de câncer.

Em novembro do ano passado descobri que estava com um cancêr basocelular na testa e precisava retirá-lo. O diagnóstico veio certeiro de um médico experiente.
Antes da cirurgia me abri para outros recursos de curas, passei por consulta e tratamento antroposófico, espiritual e xamânico
Busquei auxílio nos amigos para ajudarem a me espelhar o que eu precisava enxergar em mim mesma, afinal, o que eu não estava vendo?
Reconheci e aceitei mais um processo de troca de pele... alguns sentimentos precisavam romper a superfície da casca
Aceitei a falta de controle e o estresse
Compreendi que algumas histórias vem de longe... de tão longe que a gente nem lembra.. mas continuam a rondar nosso entorno, nossa alma, nosso coração e nosso corpo físico
E exatamente no dia do meu aniversário de 39 anos, fiz a cirurgia com a sensação de que eu já tinha compreendido o que a ferida queria me mostrar
E uma semana depois, o resultado da biopsia, contrariando a certeza do dermatologista e da cirurgia, veio negativo. Não havia mais câncer. Só gratidão.
Ganhei uma nova cicatriz e finalmente comprei um chapéu, como eu já queria há algum tempo. Vermelho... mas poderia ser roxo, azul, amarelo... A desculpa era proteger a cicatriz, mas a verdade, é que eu queria usar o "meu chapéu violeta" antes mesmo dos 40...
E pensando bem esse chapéu pode até nem ser um chapéu, pode ser um coque ou um cabelão bem solto e armado... que eu amo cada vez mais
Sei que sou grata a Vida, ao que tenho vivido e aprendido, e estar cada dia mais aberta para receber e ler os sinais do Universo
Penso mesmo que a vida é de uma belezura sem fim, mas é curta, breve e intensa e cabe a nós aprender a saborea-la a cada instante. E a gente só pode contar mesmo com o agora.
E você? Com qual chapéu que sair hoje?