sábado, 27 de setembro de 2014

Manifestação em favor do Parto Humanizado: Um ato de Amor

E hoje aconteceu a Manifestação na frente do Hospital Madrecor em Uberlândia. (Quem quiser saber mais sobre o que motivou essa Manifestação, veja aqui). O dia amanheceu nublado, coisa rara ultimamente por essas bandas. E isso foi muito bom para aliviar o calor durante o nosso encontro na porta de entrada do Hospital. As pessoas foram chegando aos poucos, roupas brancas, estampas coloridas com mensagens de nascimentos amorosos e carregando alguns acessórios que logo transformaram e alegraram o ambiente. Várias fotos de partos humanizados que aconteceram justamente nesse hospital foram afixadas nas grades de entrada junto com balões e fitas coloridas. Quem ia chegando ia ajudando.






Foi lindo ver os bebês e as crianças chegando... E quanto bebê! Carrinhos enfeitados, slings, os maiorzinhos caminhando por conta própria. Os que estavam dentro das barrigas sendo massageados por belas pinturas... Um lindo encontro! Uma linda festa! E mesmo quem não se conhecia pessoalmente, se reconhecia... por um mesmo ideal, por uma conversa no face, por um relato ou video de parto compartilhado... E era mesmo dia de se re-encontrar!




E, de repente, éramos uma imensidão de gente... Acho que umas duas centenas... E queríamos nos agrupar, mas o Hospital não permitiu que a gente usasse seu amplo estacionamento e, como a Settran (que depois nos ajudou a bloquear a rua), o jeito foi alguns papais e carrinhos nos ampararem.


Então, uma grande roda se formou, circulando uma energia de amor, de agradecimento, de boas energias... e começamos a cantar, guiados por uma bela voz... e cantamos, dançamos, nos emocionamos... e deixamos nosso recado: Queremos continuar trazendo nossos filhos da forma mais segura, amorosa e respeitosa para eles e para nós, o parto humanizado permite isso e esse grupo é a prova disso, e esse hospital era o grande protagonista dessa história em nossa cidade, não nos abandonem!!!
Discurso esse endossado por algumas presenças ilustres nesse dia marcante: como uma doula bem conhecida da Humanização de Brasília, uma representante do Conselho Federal de Psicologia, representantes do Diretória Acadêmico do Curso de Enfermagem da UFU, além de muitos profissionais da saúde defensores da causa, inclusive médicos de diversas áreas!





No fim, um abraço coletivo do grupo simbolicamente abraçando esse Hospital e o Parto Humanizado e um agradecimento a todo esse tumulto e reviravolta criada por essa nova gerência desse hospital. Obrigada, vocês provocaram esse grande encontro, vocês despertaram esse amor e essa força, de nos mostrar que somos muitos. Que muitos são os bebês que estão felizes, saudáveis e crescendo de forma amorosa desde os seus nascimentos e que estaremos juntos nos momentos tumultuosos para lembrar do que vale a pena ser vivido.

Reforçando que essa manifestação foi uma pequena ação das várias que virão. Por que nosso objetivo é reivindicar o nosso direito de escolha pelo parto seguro e humanizado, reconhecido e respaldado pela Medicina Baseada em Evidências e preconizado pelo Ministério da Saúde. Parto Humanizado é seguro, é legal e é respeitoso. E, semana que vem, mais um passo... Audiência no Ministério Público com os Diretores desse Hospital. Até lá!



Ah! Muitas e muitos foram os que ajudaram intensamente na organização dessa manifestação de hoje, um grande coletivo se formou... e espero que saibam que somos eternamente gratos. Reconhecemos que o Movimento é de todos e isso é que possibilitou a beleza que vivemos nessa tarde de sábado, 27 de setembro de 2014.

Essa foto é simbólica de um grupo muito maior... Valeu!




quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sobre a proibição do Parto Humanizado em Uberlândia

Era uma vez uma cidade de médio porte (700.000 habitantes), promissora e em franco desenvolvimento e crescimento... Era uma vez uma cidade do Triângulo Mineira famosa por seu moralismo e tradicionalismo do interior... Era uma vez uma terra fértil, gentil e próspera... Era uma vez Uberlândia e sua diversidade...
Nessa cidade, eu moro e me invento há 34 anos.  E nessas últimas semanas me vejo completamente absorvida por um redemoinho que passou por aqui e levantou poeira, fantasmas e uma triste realidade: nossos hospitais particulares (depois eu conto sobre o sistema público!) desconhecem o PARTO HUMANIZADO! E pior! Proíbem em suas dependências que as mulheres tenham esse direito de escolha garantido.
Dia 09 de setembro de 2014, o único hospital particular da cidade que aceitava que algumas médicas conscientes e envolvidas com seu trabalho pudessem realizar uma assistência obstétrica humanizada e em conformidade com todas as diretrizes e regulamentações dos Órgãos de Saúde de referência Nacional e Internacional (Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde, Política Nacional de Humanização...) decidiu proibir o Parto Humanizado... assim, sem nenhum argumento coerente... meio que alegando o incômodo dos outros pacientes com os “gritos” das mulheres e a falta de estrutura adequada e ainda colocando no meio palavras sobre atos irregulares e ações judiciais contra o Hospital.



Mas ao fazer isso, ele relacionou de forma errada (e tenho certeza que proposital), essa irregularidades e até riscos de erros médicos e processos, com o parto humanizado. SACANAGEM! E ao fazer isso, ele nos dá o direito de resposta, porque as irregularidades do Hospital nada têm a ver com os partos e sim com cobrança indevida (e a parte) dos pacientes com convênio médico... tem uma baita ação na Justiça por causa disso e é muito feio omitir esses dados da conversa!!! Já que querem falar das irregularidades, que falem quais são!!! Ah!!! E sobre os riscos para os bebês e futuros processos, cabe DESTACAR QUE OS PROCESSOS QUE EXISTEM CONTRA O HOSPITAL RELACIONADOS A PARTOS SÃO TODOS DE CESÁREAS OU PARTOS NORMAIS CONVENCIONAIS (os quais eles querem manter!!!) e AINDA NÃO EXISTE NENHUM PROCESSO NA CIDADE CONTRA NENHUMA DAS MÉDICAS QUE REALIZAM ATUALMENTE O PARTO HUMANIZADO NA CIDADE. Então, senhores diretores do Hospital Madrecor, se querem evitar danos e riscos às mulheres e bebês, façam o favor de se atualizarem e buscarem informações respaldadas na Medicina Baseada em Evidências! Estudem! Conheçam primeiro o que é o parto humanizado, como é a assistência e quais são as porcentagens de “sucesso”, antes de divulgarem informações truncadas!
 (Aqui alguns artigos científicos e documentos sobre o assunto)

Sobre a falta de estrutura adequada para o parto humanizado... Isso aí até que eu concordo, porque realmente o Hospital e Maternidade Madrecor NÃO ESTÁ REGULAMENTADO PARA FUNCIONAR COMO MATERNIDADE!!! (Assim como nenhum outro hospital da cidade). E precisamos falar sobre isso.

Desde 2008, existe uma Resolução Nacional, a RDC-36, que dispõe sobre Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal, com a qual qualquer Hospital que pretenda oferecer assistência obstétrica deveria estar de acordo. E nela, o parto humanizado, a sala PPP (pre-parto, parto e pós parto), a presença do acompanhante de escolha da mulher, a assistência humanizada ao bebê e todo o resto que vocês estão querendo proibir, está contemplado... Vale dar uma lida toda semana, para ver se abre alguma possibilidade de diálogo e coerência no discurso! E a RDC-36, é só o começo! Hoje existem várias portarias e estratégias recomendadas pelo Ministério da Saúde que estão todas diretamente envolvidas com a Humanização do Parto e Nascimento e todas com respaldo científico garantindo que a assistência individualizada, a não intervenção instrumental ou medicamentosa sem necessidade, o respeito ao processo fisiológico, o ambiente acolhedor e a presença de pessoas de confiança da mulher e amorosas reduzem (E MUITO) o risco de complicações durante o nascimento.

Redução de mortes maternas e neo-natais, vocês adoram falar sobre isso e apesar do excesso de cesarianas, esses índices continuam altos!!! Proponho a gente conversar com estatística, senhores diretores das Maternidades de Uberlândia. Topam? Pegamos o número total de nascimentos, separamos os humanizados, das cesáreas eletivas e partos convencionais (adorei essa denominação, rs) e comparamos as porcentagens das complicações... Vamos ver quem ganha??? Não estou nem sugerindo uma pesquisa de satisfação das usuárias, mas se quiserem, tb podemos acrescentar. Lembrando que em nenhum momento eu disse que não existe risco no parto humanizado... é claro que existe e não o descartamos, lidamos com o evento de forma consciente, com todo suporte técnico e atenção que o mesmo requer, e talvez até por isso, o risco pode ser minimizado e identificado rapidamente... PARTO HUMANIZADO NÃO É PARTO DESASSISTIDO! NÃO É PARTO SEM EQUIPE DE SAÚDE! NÃO É PARTO SEM ESTRUTURA! NÃO É PARTO COM DOR!!! É um parto com muito acompanhamento e assistência, praticamente o tempo todo, mas que os recursos e intervenções só são utilizados se necessário, depois de avaliação individual e delicada do caso e com o consentimento das pessoas mais interessadas na saúde e bem estar do processo: a mulher, seu acompanhante e o bebê. E se for o caso de fazer algum procedimento (incluindo uma cesárea), que ele seja feito e será muito bem vindo... Temos histórias de partos humanizados com ocitocina, com centro cirúrgico, com analgesia, com episiotomia, com cesariana, com UTI neo-natal... sim, temos, e nos orgulhamos de contar que isso fez parte da história daquele nascimento e não dos protocolos genéricos do hospital. E temos mais uma porção de histórias de partos naturais, sem nenhuma intervenção e igualmente MARAVILHOSAS!!! Ai, como eu queria que vocês, senhores diretores, nos permitissem contar essas histórias, uma a uma... Ai, como eu queria que vocês sentissem na pele aquela onda de amor que preenche uma sala, uma casa, um hospital, o Universo, quando nasce um bebê de forma amorosa, respeitosa, acolhedora, HUMANIZADA...

E quando eu digo “senhores diretores”, incluo aqui todos diretores de Hospitais que ainda desconhecem o parto humanizado... e ainda, todos os gestores e todos os envolvidos com a saúde e que as vezes fazem comentários infundados e descabidos a esse novo paradigma da assistência ao parto e nascimento.

Mas preciso também agradecer, em nome de todo o Movimento em Prol da Regulamentação do Parto Humanizado em Uberlândia, que surgiu a partir desse acontecimento específico do Madrecor. Sim, as desgraças nos mobilizam a agir, a nos unir e a nos fortalecer. E foi isso que está acontecendo por aqui. Uma grande manifestação está acontecendo, nas redes sociais e fora dela, por causa disso. Muitas mulheres e homens revelando suas lindas e emocionantes histórias de partos humanizados e pedindo para que a gente possa continuar tendo essa possibilidade de escolha... Muitas barrigudas reivindicando seus direitos... Muitas profissionais engajadas e dando apoio e suporte técnico e científico ao Movimento... Nosso próximo passo é uma Manifestação Pacífica em frente ao Hospital no sábado, dia 27/09, às 16 horas... E semana que vem, uma Audiência na Promotoria com o Hospital em pauta... Quem quiser acompanhar e contribuir mais de parto, junte-se no face, por aqui.


Artigos, Documentos, Legislação e Vídeos sobre Parto Humanizado

Vídeo reportagem da Assembleia de Minas Gerais sobre as diretrizes em relação ao parto no Estado (Projeto Estadual de Humanização do Parto)
Projeto Federal de Humanização do Parto

Lei municipal de humanização do parto em São Paulo

Maternidade segura (documento da OMS de 2009)

Cadernos da Politica Nacional de Humanização (Humaniza SUS) sobre parto humanizado 2014

Publicação do Ministério da Saúde: "Parto, Aborto e Puerperio, assistência humanizada a mulher - 2001"

Revisão sobre Assistência ao segundo e terceiro períodos do
trabalho de parto baseada em evidências

Revisão sobre Recursos não-farmacológicos no trabalho de
parto: protocolo assistência

Benefícios do Parto na Água

Cesariana não diminui risco de paralisia cerebral:

Cesariana eletiva dobra risco de morte do bebê

Jejum no trabalho de parto é prejudicial

Revisão sistemática de parto normal após duas cesáreas comparado com após 1 cesárea e com terceira cesárea.

Não se deve considerar fase ativa do trabalho de parto antes dos 6 cm de dilatação. Essa prática não aumenta riscos e diminui taxa de cesarianas.

Do ponto de vista médico, permanece o índice de 10 a 15% de cesarianas como o máximo recomendável (2014)
  
Documentário sobre Parto Humanizado no SUS (Hospital Sofia Feldman)

Sobre os partos no Brasil

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sobre mergulhos e educação

    Há um tempo temos compartilhado alguns textos sobre educação... sobre algumas possibilidades de se pensar e conduzir o processo de aprendizagem e sua inter-relação com a escola (ou escolas).
    Sim, esse é um assunto que muito nos interessa. Profissional e pessoalmente. Sim, vivemos e pensamos na educação quase o tempo todo. Estamos mergulhados nesse universo e o mergulho é profundo. E cada dia descobrimos mais e mais seres mágicos, desconhecidos, intrigantes e reveladores que co-habitam esse universo. É incrível como nem sempre nos é revelado que temos tantas opções e escolhas. E como podemos passar boa parte de nossas vidas nadando na superfície sem nos dar conta do que deixamos de explorar... Não tenho nada contra quem prefere ficar só com as pontas do pé na água, por medo ou opção... Tenho certeza de que essa também pode ser uma escolha. A minha, ou melhor, a nossa, aqui em casa, foi de explorar, porque o superficial já não mais supria nossas necessidades, não cabia mais dentro do que escolhemos como princípio de vida e como forma de viver...
    Por um tempo, preparamos o mergulho, refletimos, fomos atrás de outros mergulhadores, escolhemos os equipamentos, pesquisamos os estilos de mergulhar, conhecemos outros mares e no início deste ano de 2014, finalmente, colocamos a cabeça na água e partimos...


     Neste primeiro momento, preferimos não expor muito esse processo de forma pública e pelos quatro cantos, porque tudo que é diferente gera polêmica e a gente precisava de um tempo para lidar com as próprias emoções... mas desde o primeiro momento, nunca estivemos sós, outros mergulhadores (poucos ainda) se aproximaram e uns mergulharam juntos. E isso faz toda a diferença! Cada um mergulhando o tanto que dá, uns só experimentando e voltando para a superfície, outros entrando de uma vez. Cada um com sua necessidade, ritmo e desejo.
    Mas sinto que já podemos compartilhar mais de perto as nossas peripécias, assim, de forma mais pessoal, porque os princípios pelos quais temos norteado nossa concepção de educação estão nos textos já publicados e divulgados aqui no blog pelo Luís Gustavo. Sei que tem muita gente interessada e querendo mergulhar, e é para vocês que escrevo.
    Começo contando que criamos um espaço de educação livre e democrática em nossa cidade, Uberlândia-MG. Um local destinado a oferecer uma educação para crianças e adolescentes que considera o processo de aprendizagem como algo natural, prazeroso e individual, que deve fazer sentido e ser desejado por quem o vive e no qual o coletivo se justifique como possibilidade de troca, parceria e partilha, que acredita que a aprendizagem parte do desejo e só se justifica se assim for, e que somos seres potentes e interessados, que temos sim, vontade de aprender, que somos capazes, que nos desenvolvemos e criamos porque isso nos faz bem! É um espaço de educação não-formal e que não pretende (pelo menos, por enquanto) se oficializar como escola, para não correr o risco de descaracterizar a proposta. Um espaço em que todos têm o mesmo direito a voz e voto nas decisões, em que tudo se decide em assembleia, 
    Com nosso mergulho superamos alguns mitos e tabus. Rompemos com as classes seriadas, rompemos com as avaliações formais, rompemos com currículos pré-definidos, rompemos com autoridades pré-estabelecidas, rompemos com salas de aula, rompemos com separações por idade, rompemos com tarefa de casa, rompemos com hierarquias... E o que restou?! Ah!!! Isso fica para um outro post...

    “Simbora” mergulhar?

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Outras formas de escolarizar - O modelo Sudbury

Publico aqui minha tradução do texto The Sudbury Model of Education, de Jeffery Colins, da Hudson Valley Sudbury School, com sua autorização (e agradeço Bruce Smith pelo contato com o autor). Ele apresenta um resumo dos princípios e práticas que caracterizam esse modelo de educação escolar. "Modelo" pode cheirar à receita pronta, mas acho que não é o caso. É um método, um jeito de fazer e, desde que tenha alguém fazendo algo, tem um método envolvido. Muitas vezes é algo implícito ("Ah, faço do meu jeito, não sei explicar..."), às vezes, explícito. Esse texto é justamente a tentativa de explicitar algo que, na prática, tem muito mais riqueza, detalhe, sutilezas e dificuldades. Acredito que um modelo possa servir de norte, de guia, de lembrete quando surgem dúvidas sobre qual caminho seguir. Não acho que deva ser um conjunto de dogmas inquestionáveis, superiores à prática e aos indivíduos que vivenciam as situações. Mas sua explicitação ajuda inclusive a refletir e questionar o próprio fazer, quando isso se faz necessário. Além disso, pode nos levar a repensar outras coisas, outros temas que aparecem aqui: escola, educação, relação adulto-criança/jovem etc. Boa leitura!

O Modelo Sudbury de Educação

Jeffery A. Collins (Hudson Valley Sudbury School)
Disponível em: http://sudburyschool.com/articles/sudbury-model-education
Tradução de Luís Gustavo Guadalupe Silveira

O Espectro da Responsabilidade

            A diferença fundamental entre uma escola Sudbury e qualquer outro tipo de escola é o nível de responsabilidade dos estudantes. Numa escola Sudbury, os estudantes são os únicos responsáveis por sua educação, seu aprendizado, sua avaliação e seu ambiente.
Numa escola pública, o Estado é responsável pela maioria dos aspectos da educação dos estudantes, incluindo o currículo e a avaliação. O estudante tem pouca responsabilidade e deve aprender o que é ensinado, do modo como é ensinado, no ambiente em que é ensinado e por fim deve repetir tudo na hora da avaliação.
            Numa escola particular tradicional, os administradores têm um papel maior na determinação do currículo, se comparados aos administradores da escola pública. Em algumas escolas particulares, a escola é responsável pela avaliação, enquanto em outras a escola aplica testes estaduais. Na maioria das escolas particulares, como nas públicas, o estudante é pessoalmente responsável somente por aprender o que outra pessoa determina que é importante aprender, no momento em que ela pensa ser importante aprender isso, de um jeito que outra pessoa determinou que isso deveria ser ensinado, num ambiente criado por outros, e os estudantes devem realizar isso tudo de forma suficientemente boa para passar nas avaliações elaboradas e pontuadas por outra pessoa.
            Num ambiente de homeschooling, os pais são os maiores responsáveis pela educação dos estudantes. Em Nova Iorque e em muitos outros Estados, contudo, o Estado ainda tem alguma responsabilidade na determinação do currículo dos homeschoolers e na sua avaliação. Eles devem realizar testes estaduais e os pais devem preencher e entregar relatórios de progresso para o distrito escolar local quatro vezes por ano. Como as escolas públicas e privadas, a responsabilidade não é do estudante.
            Essas opções educacionais descrevem uma gama de graus de responsabilidade. Esse espectro começa com o estudante e se estende para os pais, a escola, a comunidade, os Governos Estadual e Federal. Nós nos referimos a isso como o Espectro da Responsabilidade. Opções educacionais com um currículo compulsório (ou seja, a maioria das escolas públicas) tendem a ficar no final do espectro. Escolas particulares ocupam uma porção ampla do espectro, com a filosofia educacional específica da escola determinando exatamente onde ela fica no espectro. O homeschooling também ocupa uma porção ampla, e a filosofia educacional dos pais é que determina o nível de responsabilidade dos estudantes. Uma escola Sudbury é a única opção educacional em que toda a responsabilidade está com o estudante.

A Filosofia Sudbury

            Estudantes de uma escola Sudbury têm total controle sobre o que eles aprendem, como aprendem, seu ambiente educacional e como eles são avaliados. Eles escolhem seu currículo. Eles escolhem seu método de aprendizagem. Eles escolhem, por meio de um processo democrático, como seu ambiente funciona. Eles escolhem com quem irão interagir. Eles escolhem se, como e quando são avaliados – frequentemente eles escolhem avaliar a si mesmos. Isso é radicalmente diferente de qualquer outra forma de educação e é isso que diferencia uma escola Sudbury das demais.
            Por que uma escola Sudbury dá esse nível de responsabilidade ao estudante? Pois seus educadores acreditam que as crianças são capazes de assumir esse nível de responsabilidade. Não é um tipo de ferramenta pedagógica usada para motivar os estudantes. A responsabilidade é real; os estudantes têm realmente a última palavra sobre sua educação. Dar responsabilidade real para os estudantes lhes permite ganhar a experiência de tomar decisões e lidar com as consequências de suas escolhas. Desse modo, os estudantes ganham experiência e maturidade.
            Grande parte do esforço atual em educação é dedicada a tentar motivar os estudantes a aprender. Uma escola Sudbury não faz nada para motivar os estudantes; nós acreditamos que eles são inerentemente motivados. Nós acreditamos nisso porque todas as evidências do desenvolvimento infantil corroboram essa tese. Qualquer um que tenha observado um bebê tentando dar seus primeiros passos ou aprendendo a falar entende isso com clareza. O bebê se esforça e erra e continua a tentar e a errar até que finalmente – sozinho – pega o jeito e começa a andar e a falar. Se não for reprimida, essa motivação interna para crescer e se desenvolver não morre quando a criança chega à idade escolar.
            A motivação externa só é necessária quando outra pessoa determina o que o estudante deve aprender. Quando os estudantes determinam seu próprio currículo, a motivação externa não é necessária. Estudos têm mostrado que pessoas que determinam sozinhas o que vão aprender retêm significantemente melhor o assunto do que se outra pessoa determinasse por elas.[1]
            Parece ser consenso geral em nossa sociedade a ideia de que, se deixadas por conta própria, as crianças nunca aprenderão nada. Deve-se dizer a elas o que é importante aprender e quando devem aprender. Numa escola Sudbury, a equipe e os pais acreditam que os estudantes são os únicos que devem decidir o que é importante aprender. Eles são os responsáveis por eleger seus interesses e, afinal, seus objetivos na vida. Há inúmeros exemplos disso numa escola Sudbury. Um dos exemplos mais claros é o caso de uma menina que, segundo a visão da equipe da escola Sudbury, tinha um grande talento para escrever. Durante anos após a garota ter entrado na escola Sudbury, a equipe achava que deveria encorajá-la a se concentrar em suas habilidades de escritora. Ao invés disso, a garota passava seu tempo socializando com seus pares. Depois de alguns anos escrevendo muito pouco, quase nada, a garota voltou a escrever e sua habilidade havia dado um salto significativo em profundidade e em compreensão das emoções humanas. Ficou claro para a equipe que seus anos se socializando não foram “desperdiçados”. Eles foram gastos, consciente ou inconscientemente, aprendendo sobre pessoas. Quando a equipe refletiu sobre isso, percebeu que a garota havia passado seu tempo exatamente da maneira como ela precisava ter feito. Se a equipe tivesse forçado, ou mesmo encorajado sutilmente, a garota a passar o tempo escrevendo, ela provavelmente teria melhorado a mecânica de suas habilidades de escrita, mas teria perdido a profundidade e a sensibilidade que sua escrita desenvolveu graças à oportunidade que ela teve de se socializar e de compreender outras pessoas.
            Ninguém numa escola Sudbury vai dizer aos estudantes o que eles têm que aprender. Ninguém vai exercer nenhuma pressão num estudante para que ele aprenda algum assunto. Nem ao menos sugerir que seria uma boa ideia se um estudante aprendesse determinado assunto. Toda a responsabilidade é deixada para os estudantes; nós chamamos isso de Aprendizagem Iniciada pelo Estudante. Quando deixamos os estudantes decidir sozinhos o que fazer e o que aprender, eles passam muito tempo se socializando. Diferente de escolas com currículo compulsório, uma escola Sudbury acredita que o tempo gasto se socializando é inestimável para a educação e o crescimento dos estudantes.
            Uma das questões normalmente feitas a educadores Sudbury é: “O que acontece se uma criança não quer aprender a ler?” Nossa resposta é que isso simplesmente não acontece. É o mesmo que perguntar: “O que acontece se uma criança não quer aprender a falar?” Em nossa sociedade, ler é uma importante ferramenta de comunicação. As pessoas são inerentemente motivadas para expandir sua habilidade de se comunicar, e essa motivação interna resultará em crianças aprendendo a ler. Contudo, numa escola Sudbury, leitura raramente é “ensinada” da maneira como pensamos que ela é normalmente ensinada. Nenhum professor fica diante de crianças de 5 e 6 anos de idade e decompõe as palavras em elementos fonéticos. Ao invés disso, ler é parte da cultura – tanto quanto falar é parte da cultura. Estudantes aprendem a ler, e em grande medida ensinam a si próprios a ler, porque querem ser capazes de participar mais no mundo. A escola Sudbury original, a Sudbury Valley School, existe há 36 anos [ela foi fundada em 1968, este texto é de 2004]. Ao longo desse tempo, eles tiveram milhares de estudantes. Em toda a história da escola, nenhuma criança deixou de aprender a ler e nenhuma teve uma aula formal de leitura. Essa mesma experiência pode ser observada com respeito ao aprendizado de outras coisas “básicas”, tais como escrita e matemática. Os estudantes aprendem porque eles reconhecem que precisam aprender isso a fim de sobreviver e prosperar dentro de sua cultura.
            Escolas Sudbury não têm avaliações formais de seus estudantes. Não há notas nem provas. Acreditamos que a melhor pessoa para avaliar o progresso de um estudante é o próprio estudante. Ele sabe quando entendeu um assunto ou uma habilidade e quando não conseguiu fazê-lo. A experiência mostra que quando um estudante se autoavalia, ele aplica um critério muito mais rigoroso do que quando outra pessoa o avalia. Ele tende a medir a si mesmo em relação à perfeição – não em relação ao “bom o suficiente”. Ocasionalmente, um estudante pede por uma avaliação externa, seja por um membro da equipe ou por outro estudante. Quando ele faz isso, exige uma crítica honesta. O estudante não está interessado em ser enganado. Ele busca a perfeição e quer saber se conseguiu alcançá-la.
            Numa escola Sudbury, não há separação por idade. Todos os estudantes são livres para se misturar a outros estudantes de qualquer idade. Numa escola com um currículo compulsório, é necessário separar os estudantes por habilidade para que possam ser instruídos ao mesmo tempo – a maneira mais fácil de fazer isso é supor que as crianças com a mesma idade têm as mesmas habilidades e os mesmos interesses. Isso pode levar ao tédio por parte de alguns estudantes se o ritmo da instrução for muito lento, e alguns estudantes podem ficar estressados e ser eventualmente prejudicados se o ritmo da instrução for muito rápido. Numa escola Sudbury, os estudantes podem buscar sua educação em seu próprio ritmo, então não há nenhuma razão para separar os estudantes por idade.
            Escolas Sudbury acreditam que há uma grande vantagem em permitir que estudantes de idades diferentes[2] se misturem livremente. De fato, a mistura de idades tem sido chamada nas escolas Sudbury de “arma secreta”. Há vantagens emocionais, sociais e educacionais em permitir a mistura entre idades diferentes. Emocionalmente, estudantes mais velhos podem assumir o papel de irmãos ou irmãs mais velhos(as) para os estudantes mais jovens. Estes ganham segurança e conforto por meio dessa relação. A mistura de idades proporciona um ambiente seguro para os estudantes trabalharem suas habilidades sociais. Estudantes que não têm confiança nessas habilidades podem praticá-las e trabalhar para melhorá-las por meio da interação com outros estudantes, sejam eles mais velhos ou mais novos. Estudantes de todas as idades podem ver estudantes mais maduros ou membros da equipe como modelos de comportamento.
            Em Escolas Sudbury, é muito comum que estudantes aprendam com outros estudantes. Algumas vezes, o estudante que ensina é mais velho que o aprendiz, algumas vezes é o contrário ou eles têm a mesma idade. A única constante é que tanto o aprendiz quanto o mestre melhoram seu conhecimento sobre o assunto. Uma das melhores formas de melhorar o conhecimento sobre algo é ensiná-lo para alguém.
            Para que os estudantes sejam capazes de ser totalmente responsáveis por sua educação, eles devem ter – ou ao menos compartilhar – a responsabilidade de criar seu ambiente de aprendizagem. Isso significa que escolas Sudbury funcionam num regime de democracia participativa. Todos os estudantes e toda a equipe (conhecidos em conjunto como Assembleia Escolar) são parte da democracia e todos os estudantes têm voz nas discussões e voto nas decisões. Em outras palavras, um estudante de 5 anos de idade tem a mesma voz e o mesmo poder na escola que um membro da equipe. A equipe não tem poder de veto das decisões tomadas pela Assembleia Escolar. O único limite é que a Assembleia não pode fazer leis que violem as leis locais e estaduais e não pode fazer uma regra que coloque a comunidade escolar em risco.
            Por meio da participação no processo democrático da escola, os estudantes ganham experiência em trabalhar com outras pessoas para tomar decisões. Eles ganham experiência em defender suas posições sobre assuntos importantes que afetam sua vida diária. Eles compreendem que suas opiniões são importantes e que eles podem afetar a comunidade em geral.

O Funcionamento Diário de uma Escola Sudbury

            Escolas Sudbury funcionam de um modo muito diferente de outros tipos de escola. Para criar um ambiente em que estudantes são responsáveis por sua educação, a estrutura da escola tem que mudar. A diferença mais impressionante é que não há “salas de aula” e que não há “professores” – pelo menos no sentido tradicional dessas palavras. Estudantes são livres para determinar como passar o seu tempo a cada dia, eles não são limitados por uma sala de aula onde um adulto lhes diz o que devem aprender. Eles podem trabalhar num projeto de arte, praticar esportes, cozinhar, dançar, ler, conversar com outros estudantes ou com a equipe, construir um forte, observar pássaros, fazer um experimento científico, subir em árvores, escrever uma história, jogar um jogo de computador, ou trabalhar com um mentor de fora do câmpus. Quando os estudantes decidem que querem aprender algo novo, seja um assunto acadêmico ou não, eles podem tanto pedir ajuda para um membro da equipe quanto para outro estudante, ou simplesmente aprender sozinhos.
            Semanalmente há uma assembleia, a Assembleia Escolar, em que a maior parte das questões cotidianas a respeito do funcionamento da escola é discutida e votada. A Assembleia Escolar funciona como a Assembleia da Prefeitura de New England. A Assembleia Escolar é conduzida pelo(a) Presidente da Assembleia Escolar e as atas são feitas pelo(a) Secretário(a) da Assembleia Escolar. Na maior parte das vezes, o(a) Presidente e o(a) Secretário(a) são estudantes que foram eleitos por outros estudantes e pela equipe. Uma pauta é publicada antes da reunião e todos os estudantes e membros da equipe são bem-vindos para participar da Assembleia. As vozes de todos nas discussões e os votos de todos nas decisões têm o mesmo peso.
            A Assembleia Escolar é a autoridade final sobre todos os assuntos relativos ao funcionamento de uma Escola Sudbury e as únicas exceções são o orçamento anual, a escala de pagamento da equipe, requisitos para graduação e a política do Câmpus Aberto. Essas questões são de reponsabilidade da Assembleia Geral. Esta é composta de estudantes, seus pais ou responsáveis e pela equipe e também funciona no sistema de democracia participativa. A Assembleia Geral normalmente se reúne uma vez por ano para aprovar o orçamento do ano seguinte. Ela dá aos pais importante voz em relação às questões vitais da escola.
            Um dos aspectos mais importantes na condução de qualquer instituição é o cumprimento das regras institucionais. Numa escola Sudbury, a Assembleia Escolar é responsável por criar e fazer cumprir essas regras. Essa responsabilidade é frequentemente delegada a um grupo menor de estudantes e membros da equipe conhecido como Comitê Judicial ou CJ. Na maior parte das escolas Sudbury, o Comitê Judicial é composto por dois Oficiais do CJ, de 3 a 5 estudantes de diferentes faixas etárias e um membro da equipe. Os Oficiais do CJ são normalmente estudantes que foram eleitos pela Assembleia Escolar e servem por dois meses. Seu trabalho é garantir que o CJ funcione sem problemas. Os estudantes de diferentes faixas etárias servem num esquema de rodízio – parecido com o serviço de júri. A rotatividade do membro da equipe normalmente é diária.
            Quando um estudante ou um membro da equipe acredita que uma regra da escola foi quebrada, preenche um formulário de reclamação do CJ. A reclamação descreve o que aconteceu, onde e quando e aponta se há testemunhas. O CJ se encontra diariamente e analisa todas as reclamações. Para cada uma delas, O CJ investiga o incidente, escreve um relatório da investigação e determina se alguma regra da escola foi violada. Em caso afirmativo, ele apresenta uma queixa contra a pessoa (estudante ou equipe) que talvez tenha quebrado a regra. O acusado pode se declarar culpado ou inocente. Se ele se declarar culpado, o CJ determina a sentença apropriada para a violação. Se o acusado se declarar inocente, um julgamento é realizado. Assim como na Assembleia Escolar, cada membro do CJ tem igual direito a voz e voto.
            Uma das reponsabilidades mais importantes da Assembleia Escolar é escolher a equipe. Isso é feito anualmente por uma votação que decide quais membros da equipe atual serão recontratados para o ano seguinte. É uma ideia muito radical essa que permite que os estudantes ajudem a determinar a equipe da escola, mas que é necessária quando se dá a eles a responsabilidade real por sua educação. Não existe responsabilidade parcial. Ou os estudantes são responsáveis ou não são. Ou se confia neles ou não. Se os estudantes não fossem autorizados a participar na seleção dos membros da equipe, um dos aspectos mais importantes do ambiente e do funcionamento da escola seria tirado deles. A mensagem seria que a eles não é confiada a responsabilidade de tomar decisões realmente importantes.
            Se os membros da equipe não são responsáveis por direcionar a educação dos estudantes, então eles são responsáveis pelo quê? Qual é o papel da equipe? Numa escola Sudbury, os membros da equipe são responsáveis pelo funcionamento da escola. Se espera deles que sejam modelos de comportamento adulto responsável. Que ofereçam suas ideias e experiências nas discussões da Assembleia Escolar. Que estejam disponíveis para os estudantes quando eles pedirem ajuda e orientação. Acima de tudo, que ajudem a garantir o funcionamento e o sucesso da escola dando continuidade à comunidade e à cultura da escola.
            Um dos aspectos mais impressionantes de uma escola Sudbury é a relação entre a equipe e os estudantes. Os membros da equipe têm altas expectativas com relação aos estudantes. Esperam que eles sejam capazes de assumir responsabilidades. A equipe interage com os estudantes como se eles fossem adultos – talvez adultos jovens e inexperientes, mas não menos adultos. Ela ouve os estudantes.
            Ocasionalmente, os estudantes numa escola Sudbury decidirão que querem aprender um assunto ou que desejam perseguir uma carreira profissional ou acadêmica. Quando eles decidem isso, a equipe está lá para apoiar sua escolha e ajudá-los a alcançar seus objetivos. Isso pode ser feito pelo ensino efetivo de um assunto, pela recomendação de um livro ou outro material de referência, pela identificação de um recurso externo ou pela viabilização de um estágio. Um exemplo disso ocorreu em nossa escola, com uma estudante que queria claramente se tornar veterinária. Ela abordou a equipe e perguntou o que ela precisava fazer para entrar numa boa faculdade de veterinária. A equipe ajudou a estudante a realizar um programa de estudos de curta duração com um veterinário local. Durante o programa, a estudante visitou a clínica veterinária durante o horário de aula. Quando o programa terminou, o veterinário foi muito positivo sobre a experiência e falou que a estudante seria bem-vinda para voltar para um estágio quando ela atingisse a idade legal para isso. A chave disso tudo foi que a estudante sabia o que queria. A equipe estava lá para apoiá-la e encorajá-la em seu caminho, mas não para determinar o seu caminho.

Resultados de uma Educação Sudbury

            Em razão do Modelo de Educação Sudbury ser tão diferente de qualquer outra forma de educação, muitas pessoas se perguntam sobre os resultados de uma educação Sudbury. Especificamente, elas imaginam se os formandos serão capazes de entrar na universidade ou se serão capazes de lidar com o mundo “real”. Resumidamente, ao longo da história, os formandos têm se dado muito bem quando se trata de entrar na universidade. A Sudbury Valley School tem feito um estudo extensivo sobre seus ex-estudantes[3]. Os resultados de seus estudos mostram que uma grande maioria (87%) dos formandos continua em alguma forma de educação avançada: universidade regular, universidades comunitárias, escolas de artes, institutos de culinária etc.
            Diferente das escolas de Educação Compulsória, os formandos de uma escola Sudbury não entram numa universidade com base em seus históricos e suas atividades extracurriculares. Eles entram na universidade porque tendem a ser muito focados em sua escolha de carreira. Isso resulta em pedidos de admissão que se destacam da multidão. Estudantes Sudbury tiveram tempo durante seus anos de ensino médio para investigar diferentes opções e para descobrir suas paixões.
            Um dos fatos mais impressionantes descobertos no estudo da Sudbury Valley School a respeito de seus ex-estudantes foi que 42% dos que responderam à entrevista são ou autônomos ou empreendedores.[4] Isso é compreensível dada a filosofia educacional de uma escola Sudbury. Os estudantes foram capazes de desenvolver seus interesses e suas habilidades para assumir responsabilidades. Uma vez acostumados a ser responsáveis, é difícil abrir mão da responsabilidade em favor de outra pessoa.

Conclusão

            Uma das ideias equivocadas em relação às escolas Sudbury é que elas devem ser fáceis – afinal, os estudantes são livres para fazer o que quiserem sem um professor para dizer o que devem fazer. Nada pode estar mais distante da verdade. Uma escola Sudbury é difícil exatamente pelo mesmo motivo que leva as pessoas a pensar que ela é fácil. Sem ninguém dizendo aos estudantes o que fazer, eles não têm escolha a não ser decidir o que fazer por conta própria. Isso é muito mais difícil do que simplesmente seguir instruções.
            Uma vez que as pessoas tenham entendido a filosofia Sudbury, elas frequentemente perguntam “por que todo mundo não manda suas crianças para uma escola Sudbury?” Minha resposta é simplesmente porque muitos pais não acreditam ou confiam que seus filhos são motivados para aprender. Eu não sou capaz de contar quantas vezes um pai me falou: “Isso parece ótimo, mas minha criança iria brincar o dia todo e nunca aprenderia nada – ela precisa ser pressionada.” Para ser educado, eu não questiono essa crença. Em minha cabeça, contudo, minha resposta é: “Se sua criança não fosse motivada, ela ainda estaria deitada no berço, chorando por comida quando tivesse fome”. A criança teve motivação suficiente para aprender a andar, comer alimentos sólidos, falar e para desenvolver muitas, muitas outras habilidades. Seria realmente muito fácil para a criança simplesmente ficar deitada num berço e chorar por comida, mas ela escolheu o caminho mais difícil, o de um bebê que decide aprender a se tornar uma criança. Da mesma forma, as crianças irão escolher o caminho difícil e empoderador que leva da infância à idade adulta.



[1] Deci, E.L., & Ryan, R. M. (2002). The paradox of achievement: The harder you push, the worse it gets. In J. Aronson (Ed.)
[2] A Sudbury Valley School e outras escolas Sudbury trabalham com estudantes de 4 a 19 anos de idade [NT].
[3] Greenberg, D., & and Sadofsky, M. Legacy of Trust: Life After the Sudbury Valley School Experience (1992) (Sudbury Valley School Press; Framingham, MA) pp. 249.
[4] Idem.