quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O Chapéu Violeta

Aos 3 anos:
Ela olha pra si mesma e vê uma rainha.
Aos 8 anos:
Ela olha para si e vê Cinderela.
Aos 15 anos:
Ela olha e vê uma freira horrorosa.
Aos 20 anos:
Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.
Aos 30 anos:
Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.
Aos 40 anos:
Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.
Aos 50 anos:
Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.
Aos 60 anos:
Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.
Aos 70 anos:
Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida.
Aos 80 anos:
Ela não se incomoda mais em se olhar. Põe simplesmente um chapéu violeta e vai se divertir com o mundo.
Talvez devêssemos por aquele chapéu violeta mais cedo!
Trecho de um texto de Erma Bombeck, escrito quando ela descobriu que estava morrendo de câncer.

Em novembro do ano passado descobri que estava com um cancêr basocelular na testa e precisava retirá-lo. O diagnóstico veio certeiro de um médico experiente.
Antes da cirurgia me abri para outros recursos de curas, passei por consulta e tratamento antroposófico, espiritual e xamânico
Busquei auxílio nos amigos para ajudarem a me espelhar o que eu precisava enxergar em mim mesma, afinal, o que eu não estava vendo?
Reconheci e aceitei mais um processo de troca de pele... alguns sentimentos precisavam romper a superfície da casca
Aceitei a falta de controle e o estresse
Compreendi que algumas histórias vem de longe... de tão longe que a gente nem lembra.. mas continuam a rondar nosso entorno, nossa alma, nosso coração e nosso corpo físico
E exatamente no dia do meu aniversário de 39 anos, fiz a cirurgia com a sensação de que eu já tinha compreendido o que a ferida queria me mostrar
E uma semana depois, o resultado da biopsia, contrariando a certeza do dermatologista e da cirurgia, veio negativo. Não havia mais câncer. Só gratidão.
Ganhei uma nova cicatriz e finalmente comprei um chapéu, como eu já queria há algum tempo. Vermelho... mas poderia ser roxo, azul, amarelo... A desculpa era proteger a cicatriz, mas a verdade, é que eu queria usar o "meu chapéu violeta" antes mesmo dos 40...
E pensando bem esse chapéu pode até nem ser um chapéu, pode ser um coque ou um cabelão bem solto e armado... que eu amo cada vez mais
Sei que sou grata a Vida, ao que tenho vivido e aprendido, e estar cada dia mais aberta para receber e ler os sinais do Universo
Penso mesmo que a vida é de uma belezura sem fim, mas é curta, breve e intensa e cabe a nós aprender a saborea-la a cada instante. E a gente só pode contar mesmo com o agora.
E você? Com qual chapéu que sair hoje?