terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Diferenças entre Educação Autodirigida e Educação Progressista

Diferenças entre Educação Autodirigida e Educação Progressista

A tendência no futuro será a Educação Autodirigida, não a educação progressista



Postado originalmente em 27/07/2017
Por Peter Gray, professor pesquisador da Universidade de Boston e autor dos livros Free to Learn e Psychology




Traduzido por Luís Gustavo Guadalupe Silveira, membro da equipe da Casa da Árvore 


Como os leitores do meu blog bem sabem, sou um defensor da Educação Autodirigida. Minhas pesquisas, e de outros autores, me convenceram de que a Educação Autodirigida funciona, é totalmente viável e causa muito menos problemas para todos se comparada ao sistema de educação coercitiva que consideramos ser o “padrão.” Educação Autodirigida, com letras maiúsculas, é o termo que está sendo cada vez mais usado para nomear a prática educacional de pessoas que se denominam “desescolarizadas” ou que frequentam escolas ou centros de aprendizagem especialmente projetados para promover a autodireção, sem currículos impostos, tais como as escolas democráticas do modelo Sudbury, Agile Learning Centers e algumas escolas que se denominam “escolas livres” (Gray, 2017).

Descobri que quando falo de Educação Autodirigida, algumas pessoas equivocadamente acreditam que estou tratando de educação progressista. A Educação Progressista compartilha muitos dos objetivos da Educação Autodirigida e seus defensores muitas vezes usam a mesma linguagem, mas os fundamentos filosóficos são bem diversos e a metodologia é bem diferente. A seguir, irei revisar os princípios básicos da educação progressista, depois revisar os da Educação Autodirigida e, por fim, explicar porquê eu acho que a última e não a primeira irá se tornar o padrão educacional num futuro não muito distante.

Educação Progressista
Educação Progressista é o termo que geralmente se aplica a um movimento de reforma educacional que começou no final do século XIX, mais ou menos na época em que a escola se tornou obrigatória na maioria dos Estados dos EUA, crescendo e se retraindo pelo menos duas vezes desde então. O período entre 1890 e 1940 testemunhou o surgimento de ideias progressistas na educação, o nascimento de muitas escolas particulares progressistas e alguns esforços combinados para trazer essas ideias até as escolas públicas. O principal filósofo da educação progressista na época, pelo menos nos EUA, era John Dewey. Outros dos primeiros pensadores progressistas na educação foram Rudolf Steiner (1869-1925) e Maria Montessori (1870-1952), cujas tradições sobrevivem, respectivamente, nas escolas Waldorf e Montessori.[1] Ideias educacionais progressistas tenderam a desaparecer com a Segunda Guerra Mundial e o pós-guerra, ressurgiram nos anos 1960 e 70 e de modo geral estão enfraquecendo desde os anos 1980. Todavia, atualmente a educação progressista está reaparecendo em algumas escolas que trabalham com aprendizagem baseada em projetos.

Educadores progressistas normalmente enfatizam o aprender fazendo, o aprendizado contextualizado relevante para as experiências reais dos estudantes, pensamento crítico, compreensão profunda em lugar de memorização, trabalho em grupo e colaboração em lugar de competição, avaliação baseada em produtos mais do que em provas, promovem responsabilidade social, atitudes democráticas e uma preocupação com justiça social. Geralmente falam de “educar integralmente a pessoa” e sobre uma educação “centrada no estudante” em oposição àquela meramente centrada nos conteúdos. Professores progressistas devem conhecer a individualidade de todos os seus estudantes e trazer à tona o melhor de cada um.

O site da Progressive Education Network (uma organização sem fins lucrativos fundada em 2009 como parte de uma tentativa de reviver a educação progressista) declara, como sua missão, que: A educação deve (a) ampliar a voz, a participação, a consciência e o intelecto dos estudantes para criar um mundo equânime, justo e sustentável; (b) encorajar a participação ativa dos estudantes em sua aprendizagem, em suas comunidades e no mundo; (c) atender às necessidades do desenvolvimento dos estudantes e focar em seu desenvolvimento social, emocional, intelectual, cognitivo, cultural e físico; (d) honrar e nutrir a curiosidade natural dos estudantes e seu desejo inato de aprender, estimulando a motivação interna e a descoberta da paixão e do propósito; (e) explicitar os interesses, experiências, objetivos e necessidades dos diferentes indivíduos, fomentando empatia, comunicação e colaboração em meio à diferença; e (f) promover relações respeitosamente colaborativas e críticas, entre estudantes, educadores, pais/guardiões e a comunidade.”

Alfie Kohn, um dos principais defensores da educação progressista atualmente, afirmou (aqui) que as escolas podem ser classificadas como mais ou menos progressistas à medida que elas estiverem comprometidas (a) em dar atenção à criança como um todo, não apenas aos aspectos acadêmicos; (b) com a comunidade; (c) com colaboração; (d) com a justiça social; (e) em estimular a motivação interna; (f) com a compreensão profunda; (g) com aprendizagem ativa; e (h) em levar as crianças a sério.

Educadores progressistas tendem a ver a educação como um esforço colaborativo entre os estudantes e seu professor. Uma boa parte da iniciativa vem dos estudantes, mas os professores são responsáveis por guiar essa iniciativa de forma produtiva. Os interesses internos de cada criança têm um grande papel, mas o professor “alimenta” ou mesmo “traz à tona” os interesses da criança. A brincadeira é vista como parte do processo de aprendizagem, mas o professor guia e interpreta essa brincadeira de maneiras planejadas para garantir a realização de certos objetivos educativos.

Educação Autodirigida
Defensores da Educação Autodirigida, como os da educação progressista, enfatizam que a educação é muito mais do que apenas aprendizado acadêmico. O site da Alliance for Self-Directed Education define educação como a soma de tudo que uma pessoa aprende que permite a ela viver uma vida satisfatória e significativa. Isso poderia incluir autoconhecimento, habilidades de planejamento e direcionamento das próprias atividades, habilidades para se relacionar bem com outras pessoas e compreensão do mundo a sua volta suficiente para transitar efetivamente nesse mundo. Muitos educadores progressistas iriam concordar, acredito, com esse tipo de definição de educação.

A diferença entre educação progressista e Educação Autodirigida está no entendimento de como tal educação da pessoa-como-um-todo acontece. Para o educador progressista, ela surge da colaboração entre a criança e um professor bondoso e extraordinariamente competente, que canaliza gentilmente a energia da criança e molda suas ideias em formas que, a longo prazo, servem ao bem da criança e da sociedade. Para o defensor da Educação Autodirigida, a educação surge a partir do impulso natural da criança em conhecer a si mesma e ao mundo em que vive e usar todos os recursos disponíveis em seu ambiente, incluindo pessoas sábias e habilidosas, para alcançar esse fim.

Para o defensor da Educação Autodirigida, é a inteligência da criança, não a do professor, que possibilita uma educação bem-sucedida. A tarefa dos adultos que facilitam a Educação Autodirigida é menos pesada que a dos professores na educação progressista. Na Educação Autodirigida, os adultos não precisam ter grandes conhecimentos sobre cada assunto que o estudante possa querer aprender, não precisam entender os mecanismos internos da mente de cada criança, e não têm que ser mestres em pedagogia (o que quer que isso queira dizer). Ao contrário, eles apenas precisam se certificar de que a criança está num ambiente que permite que seus instintos naturais de aprendizagem operem efetivamente. Como eu havia argumentado em outros lugares (aqui e aqui), este é um ambiente no qual a criança (a) tem tempo e liberdade ilimitados para brincar e explorar; (b) tem acesso às ferramentas mais úteis de sua cultura; (c) está imersa numa comunidade cuidadosa de pessoas de diversas idades, com diferentes habilidades, conhecimentos e ideias; e (d) tem acesso a alguns adultos dispostos a responder perguntas (ou tentar responder) e a fornecer ajuda quando esta for solicitada. É esse o tipo de ambiente encontrado em escolas ou centros de aprendizagem projetados para a Educação Autodirigida e também o tipo de ambiente que famílias desescolarizadas bem-sucedidas oferecem para suas crianças.

A educação, nesta perspectiva, não é resultado da colaboração entre o estudante e um professor; mas é de inteira responsabilidade do estudante. Enquanto educadores progressistas continuam a considerar que é sua responsabilidade garantir que os estudantes adquiram certos conhecimentos, habilidades e valores, e avaliar o progresso dos estudantes, os facilitadores da Educação Autodirigida não veem isso como sua responsabilidade. Enquanto a educação progressista representa um continuum com a educação tradicional, a Educação Autodirigida representa uma ruptura completa com a abordagem tradicional.

Gostaria aqui de apresentar uma distinção, que não foi explicitada antes (nem mesmo em meus próprios escritos), entre Educação Autodirigida, com letras maiúsculas, e educação autodirigida, em minúsculas. Proponho que Educação Autodirigida seja usada para se referir à educação de crianças em idade escolar, cujas famílias tomaram uma decisão deliberada de que as crianças vão educar a si mesmas ao seguirem seus próprios interesses, sem serem sujeitadas a um currículo imposto, seja dentro ou fora da escola. Além disso, proponho que a educação autodirigida, em letras minúsculas, seja usada de uma maneira mais geral para se referir a algo que todo ser humano faz o tempo todo em suas vidas. Estamos todos, constantemente, nos educando a nós mesmos enquanto buscamos nossos interesses, ganhamos a vida e batalhamos para resolver nossos problemas cotidianos. A maior parte do que nós conhecemos – independentemente do tempo de escolarização que tivemos – veio da educação autodirigida.

Aqueles que buscam uma Educação Autodirigida estão, com efeito, dizendo que a educação autodirigida (em minúsculas) é tão poderosa e efetiva que as crianças não precisam absolutamente de uma educação imposta, se lhes for oferecido um ambiente que otimize sua habilidade de educar a si mesmas. Realmente, muitos estão dizendo que uma educação imposta interfere na educação autodirigida por consumir muito tempo da criança, transformando a aprendizagem em algo desagradável e plantando nas mentes das crianças a ideia de que elas não são capazes de controlar sua própria educação.

Porquê Eu Penso que a Educação Autodirigida, Não a Educação Progressista, Vai se Tornar o Padrão de Educação no Futuro
Admiro os educadores progressistas. Sem exceção, todos que eu conheci são boas pessoas que se preocupam profundamente com as crianças e querem melhorar suas vidas. Eles veem os danos causados por nosso sistema de ensino tradicional e querem fazer algo a respeito. Neste exato momento, educadores progressistas estão na linha de frente dos esforços para reduzir os deveres de casa (para que as crianças tenham uma vida fora da escola), trazer de volta o recreio, reduzir ou eliminar testes padronizados e permitir que os professores sejam mais flexíveis e sensíveis às necessidades das crianças em sala de aula. Estão travando uma batalha difícil, e os admiro por isso. Mas é uma batalha tão antiga quanto a escolarização compulsória. É uma batalha que ajuda a moderar os excessos da educação tradicional; mas é incapaz de derrotá-la, pois aceita muitas das crenças tradicionais sobre como a educação deve ser.

Enquanto os professores acharem que é sua tarefa garantir que as crianças aprendam certas coisas, em momentos específicos de seu desenvolvimento, então não importa quão progressista seja seu pensamento, eles terão que usar métodos coercitivos para obrigar as crianças a aprender. As crianças, por natureza, não desenvolvem interesses semelhantes ao mesmo tempo, então é impossível atuar numa sala de aula típica, com mais de um grupo de estudantes, acreditando que todos eles vão aprender o que está no currículo apenas fazendo aquilo que lhes interessa.

Ouso dizer que a maioria dos professores novatos, saídos de faculdades de educação, começam a trabalhar pensando que vão ser educadores progressistas. Escolhem dar aulas, no fim das contas, porque amam crianças; e em suas aulas de pedagogia, muitas, senão todas, as filosofias educacionais que leram e das quais ouviram falar eram progressistas – sobre guiar, estimular e facilitar, não sobre coagir. Mas daí eles entraram no mundo real das salas de aula. Lá, eles cuidam de trinta crianças, têm que manter a ordem e fazer algo para parecer que o aprendizado está acontecendo; e suas ideias progressistas logo voam pela janela. Não é nenhuma surpresa que as escolas que trabalham mais em sintonia com os princípios progressistas sejam particulares e muito caras. Elas exigem classes pequenas, poucos estudantes por professor, e profissionais altamente competentes e dedicados.

Mesmo os defensores mais fervorosos da educação progressista admitem que uma das razões pelas quais a educação progressista não decolou é o fato de ela ser tão exigente com os professores. Aqui, por exemplo, vemos o que Alfie Kohn tem a dizer sobre isso: “Ela [a educação progressista] é muito mais exigente com os professores, que precisam saber sua matéria de cabo a rabo se querem que os estudantes ‘compreendam biologia ou literatura’ em vez de ‘simplesmente memorizar a anatomia de um sapo ou a estrutura de uma frase.’ Mas os professores progressistas também têm que saber muito de pedagogia, pois nenhuma quantidade de conhecimento específico (por exemplo, ser especialista em ciência ou inglês) vai dizer como facilitar a aprendizagem.Acrescente a isso a ideia de que os professores devem conhecer todos os seus alunos individualmente e ajudá-los a desenvolver seus potenciais e seus próprios interesses, e você vai começar a entender por que a educação progressista não substituiu a educação diretiva do ensina-e-testa como modelo predominante.

Educadores progressistas frequentemente citam Rousseau como um dos primeiros pensadores dessa abordagem. A única obra de Rousseau sobre educação foi seu livro Emílio, publicado em 1760, que apresenta o relato fictício da educação de uma criança. Se esse livro tivesse qualquer aplicação no mundo real, seria na educação  de um príncipe. O professor de Emílio é um preceptor, cujo único trabalho, única missão na vida, é educar apenas esse menino, numa taxa de professor/aluno de um para um. O preceptor, de acordo com a descrição de Rousseau, é  uma espécie de super-herói. Ele não apenas sabe muito sobre todos os assuntos, mas entende Emílio completamente, mais do que seria humanamente possível (eu diria). Ele conhece todos os desejos do menino, a todo momento, e sempre sabe exatamente qual estímulo oferecer para aumentar os benefícios educacionais que resultarão das ações do menino a partir desses desejos. Assim, o preceptor cria um ambiente no qual Emílio está sempre fazendo apenas o que quer, e ainda aprende exatamente as lições que seu preceptor habilmente preparou para ele.

Acredito que se mais educadores realmente lessem o Emílio, em vez de apenas citá-lo, reconheceriam o erro básico da teoria educacional progressista. Ela exige demais dos professores para ser aplicável em qualquer tipo de larga escala, e ela faz suposições irreais sobre a previsibilidade e obviedade das motivações e dos desejos humanos. [Para minha análise do Emílio, ver aqui.] Na melhor das hipóteses, em larga escala, a educação progressista pode apenas ajudar a aliviar a dureza dos métodos tradicionais e adicionar um toque de autodireção e criatividade à vida dos estudantes.

Diferente da educação progressista, a Educação Autodirigida é barata e eficiente. A Sudbury Valley School, por exemplo, que está se aproximando do seu aniversário  de 50 anos[2], funciona com um orçamento por estudante que é menos da metade daquele das escolas públicas locais (para saber mais sobre essa escola, ver aqui e aqui). Um grande número de adultos por estudante não é necessário, pois a maior parte da aprendizagem dos estudantes não vem de sua interação com os adultos. Neste ambiente de mistura de idades, estudantes mais novos estão constantemente aprendendo com os mais velhos, crianças de todas as idades praticam habilidades essenciais e experimentam ideias em suas brincadeiras, explorações, conversas e buscas dos interesses que tenham desenvolvido. Por iniciativa própria, elas também usam livros e, no mundo de hoje, a internet para adquirir o conhecimento que estão buscando a qualquer hora.

A crítica mais comum à Educação Autodirigida é que ela não funciona, ou só funciona para certas pessoas, muito automotivadas. De fato, educadores progressistas frequentemente são rápidos em marcar a distinção entre sua visão e a Educação Autodirigida, pois não querem que sua proposta seja confundida com ideias que eles consideram “românticas” ou “malucas” e impraticáveis. Por exemplo, tenho quase certeza de que Alfie Kohn tinha a Educação Autodirigida em mente quando escreveu (aqui novamente): “Nessa versão caricata da tradição, as crianças são livres para fazer tudo o que quiserem, o currículo consiste em coisas divertidas (o que não for divertido está fora). Espera-se que a aprendizagem ocorra automaticamente enquanto os professores ficam de lado, observando e sorrindo. Falta espaço aqui para oferecer exemplos dessa deturpação — ou uma apresentação completa das razões por que isso é tão profundamente errado — mas confie em mim: as pessoas realmente zombam da ideia de uma educação progressista baseadas em uma imagem que tem muito pouco a ver com a educação progressista.

A caricatura de Kohn da Educação Autodirigida não é muito correta — pois as crianças escolhem regularmente, por conta própria, fazer coisas que não são divertidas a curto prazo e porque membros da equipe não ficam apenas ao lado observando e sorrindo; mas, ainda sim, essa caracterização não está completamente errada. E essa educação funciona. Não precisa acreditar em mim; leia e trate com desconfiança as evidências. Estudos que acompanharam formandos de escolas de Educação Autodirigida e jovens desescolarizados mostraram que as pessoas, que se educaram seguindo seus interesses estão se saindo muito bem na vida. Você pode ler muito mais sobre isso em posts anteriores desse blog[3], em vários artigos acadêmicos (p.e., aqui, aqui e aqui) e em meu livro Free to Learn.

A Educação Autodirigida funciona porque somos naturalmente projetados para ela. Ao longo de essencialmente toda a história humana, crianças educaram a si mesmas explorando, brincando, observando e ouvindo outras pessoas, descobrindo e buscando seus próprios objetivos na vida (p.e., aqui e GRAY, 2016). Em uma extensa revisão da literatura antropológica sobre educação em diversas culturas, David Lancy (2016) concluiu que a aprendizagem — incluindo a aprendizagem abarcada pela educação — é natural para os seres humanos, mas ensinar e ser ensinado, não. A citação de Winston Churchill segundo a qual “Eu sempre gostei de aprender, mas nem sempre gostei de ser ensinado” é algo que qualquer pessoa, em qualquer época ou local, poderia ter dito.

Os instintos educacionais das crianças ainda funcionam perfeitamente, em nossa sociedade moderna, desde que sejam fornecidas as condições que possibilitem sua realização. Os mesmos instintos que motivaram crianças caçadoras-coletoras a aprender a caçar, coletar e fazer tudo que precisavam para serem adultos competentes motivam as crianças em nossa sociedade a aprender a ler, calcular, usar computadores e fazer tudo que precisam para se tornarem adultos competentes (ver GRAY, 2016). A Educação Autodirigida é tão natural, tão mais prazerosa e eficiente para todos do que a educação coercitiva, que parece inevitável para mim que ela voltará a ser a rota educacional predominante.

A escolarização coercitiva tem sido um pequeno desvio na história humana, projetada para servir aos fins temporários que surgiram com a industrialização e a necessidade de eliminar a criatividade e o livre-arbítrio (veja aqui). Agora, a escolarização coercitiva está num processo de autodestruição, numa espécie de último suspiro. Uma vez que as pessoas descubram que a Educação Autodirigida funciona, e não causa o estresse e os danos da escolarização coercitiva, e começarmos a direcionar uma parte dos bilhões de dólares que são gastos atualmente na educação coercitiva para prover os recursos para que a Educação Autodirigida chegue a todas as crianças, a Educação Autodirigida vai se tornar novamente a rota educacional predominante. Então, poderemos abandonar as letras maiúsculas. E então não precisaremos mais que a educação progressista suavize os duros golpes da educação coercitiva.

   
NOTAS

1. No Brasil, Paulo Freire (1921-1997) é o principal representante da     Pedagogia Progressista Libertadora. Outro nome importante no Brasil ligado à Pedagogia Progressista é  o do educador português José Pacheco (1951-), responsável por iniciativas como a Escola da Ponte, em Portugal, e o Projeto Âncora, no Brasil (NT).
2. Em 2018, a Sudbury Valley School completou 50 anos (NT).


REFERÊNCIAS

GRAY, Peter. Children’s natural ways of learning still work — even for the three Rs.  In: GEARY, D. C; BERCH, D. B. (ed). Evolutionary perspectives on child development and education. New York: Springer, 2016. p. 33-66.

GRAY, Peter. Free to Learn. New York: Basic Books, 2013.

LANCY, David.  Teaching: natural or cultural?  In: GEARY, D. C; BERCH, D. B. (ed). Evolutionary perspectives on child development and education. New York: Springer, 2016. p. 67-93.