Nesse exato momento meu marido está na rodoviária com os meus filhos, se despedindo da minha sogra. Ela ficou 2 semanas aqui em casa, como é costume quando vem aqui pra nossa cidade (umas três? vezes ao ano) e sabe o que eu tenho vontade de dizer a ela???
Fique mais um pouco, sentiremos sua falta.
Esse ano completo dez anos de casada e quatorze de namoro. Fui a um chá de casamento esse final de semana e ouvi a carta que a sogra escreveu de presente para a nora. Começava exatamente assim: "quero ser sua amiga". Me emocionei com a carta e agora me emociono ao pensar em minha sogra. Nem tudo foram ou são flores em nosso relacionamento mas acho que tenho orgulho de termos aprendido a nos respeitar e a gostar da convivência uma com a outra (tô errada sogrinha?).
Há mais ou menos três anos escrevi uma carta para ela na qual desabafava e pedia delicadamente que ela não ficasse na minha casa em determinada data que ela queria vir. Foi difícil escrever e mais ainda lidar com as reações de algumas pessoas da família, mas acho que de tudo que fiz, isso foi uma das coisas que mais me aproximou dela. Justifico: para escrever precisei ser sincera comigo e com ela, precisei me colocar em primeiro lugar e precisei me arriscar a perder o carinho e a amizade dela. Imagino o quanto a carta foi difícil de ser lida por ela e imagino a força que ela precisou enfrentar ao voltar na minha casa algum tempo depois. Mas tudo isso me possibilitou me expressar mais naturalmente e conversar de coração para coração e também me deu mais autonomia de ser a "gerente" da minha casa e da minha vida. Poder falar não, poder impor meus limites e mesmo assim ser aceita por ela, me fez crescer. Obrigada!
Minha sogra é uma mulher que adora terapia, grupos de apoio, círculo de mulheres... vive apresentando um novo livro de "auto-ajuda", uma nova abordagem terapêutica, um novo alimento para cura. Ela está sempre aberta a crescer, evoluir, trabalhar aspectos não-positivos de sua personalidade. E acaba inspirando isso em mim. Foi ela que me deu o livro que me ajudou a emagrecer. Foi ela que me deu o livro que me ajudou a entender as linguagens de amor que eu e meu marido utilizamos. Foi ela que me deu o Tarô das Deusas que eu tanto adoro...
Minha sogra é uma mulher vaidosa, que ama jóias, bolsas e sapatos. E acaba inspirando isso em mim. Foi ela que me deu, me vendeu, ou emprestou a maioria dos meus brincos, anéis, bolsas e sapatos e que me ajuda a escolher as roupas que eu compro quando vou a sua cidade (até aqueles TRÊS vestidos de festas que comprei por insistência dela quando ia comprar apenas um...). Sim, minha sogra também têm tendências a exagerar... mas isso ela também têm se trabalhado.
Enfim, nesse mesmo chá de casamento, refletimos um pouco sobre os laços familiares que abraçamos quando firmamos o casamento com outro alguém. No caso do casamento, ao casarmos, precisamos entender que mesmo que distantes fisicamente, o nosso companheiro carrega com ele sua família e vice-versa e que isso fará parte do pacote, queiramos ou não. No meu caso, queria registrar em público, que me sinto feliz com a família que tenho, com todos os nós, espinhos e apertos que toda família carrega. E me sinto feliz por ter em você, minha sogra, uma amiga.
Minha casa está aberta para você, sempre, mesmo nos momentos que eu precisar fechar a porta.
Obrigada por tudo, por ter gerado e criado seu filho como um homem respeitoso e digno, pelo carinho e paciência com os meus filhos e pelas nossas conversas e reflexões.
Boa viagem e até logo!
Aos quatro ventos, nossas experiências, ideias, reflexões e vivências sobre nascimento, educação, criação...
terça-feira, 29 de abril de 2014
terça-feira, 1 de abril de 2014
"Disponibilidade instantânea, sem presença constante"
Olás! Trago aqui mais uma tradução sobre o funcionamento da Sudbury Valley School, desta vez sobre o papel da equipe de funcionários. A publicação foi gentilmente autorizada por Mimsy Sadofsky, fundadora e funcionária da escola desde 1968. A ideia do texto (curtinho) é simples, mas ao mesmo tempo desafiadora! Espero que gostem!
Disponibilidade
instantânea, sem presença constante[1]
Hanna
Greenberg
Tradução
de Luís Gustavo Guadalupe Silveira
Eu
li esta citação de Lotte Bailin em algum lugar:
“Disponibilidade
instantânea sem presença constante é o melhor uma mãe pode oferecer.”
Acho
que é uma citação adorável, e eu a escrevi num pedaço de papel que fica colado em
minha escrivaninha. Na semana passada, aconteceram duas situações sem ligação
que esclareceram pra mim a razão de eu ter guardado essa citação e o que ela desperta
em mim.
Como
acontece às vezes na escola, tivemos um pequeno acidente. Uma menina fez uma
estrela e bateu com força no braço de sua amiga Lily. Aquilo machucou muito e
Mikel, que já havia sido um paramédico, a socorreu. Ele colocou uma tala com
muito cuidado no caso de algum osso ter se quebrado e ligou para os pais de
Lily para que a buscassem e a levassem ao médico. Para Mikel, a lesão não
exigia cuidados urgentes e seria melhor para a criança estar com seus pais do
que ser levada para um hospital de ambulância, o que é bem mais traumático.
Isso
aconteceu durante uma Assembleia Escolar, quando um assunto importante estava
sendo discutido, mas de tempos em tempos um membro preocupado da equipe
escapava da Assembleia para ir ver como Lily estava. Todos nós sabíamos que
Mikel estava tomando conta dela muito bem, mas simplesmente não conseguíamos
dar atenção ao tema da Assembleia sem ver com nossos próprios olhos se Lily
estava realmente bem. Mais tarde, eu liguei para Lily para saber como ela
estava e sua mãe conversou comigo sobre o acidente.
O
que ela disse me deixou estupefata!
A
mãe disse que somente agora, após o acidente, ela finalmente entendia como a
equipe trabalha na escola. Lily contou para ela quão preocupados e cuidadosos
nós tínhamos sido e como ela havia se sentido bem com isso. A mãe entendeu pela
primeira vez em quase dois anos que aquilo que parecia uma negligência benigna
por parte da equipe era de propósito, e não era negligência de modo algum. Era
dar espaço para a criança se desenvolver e crescer livre da interferência de
adultos.
O
outro incidente aconteceu com um menino em sua excursão para as Montanhas
Nevadas. Sua mãe publicou parte do seu diário num Boletim Informativo da SVS[2] em que ela também diz, na
seguinte citação, como o incidente a ajudou a entender melhor a filosofia da
SVS, depois de estar envolvida com a escola por mais de um ano.
“O
fato de tanta atenção ter sido dada ao meu filho durante os últimos cinco dias,
por nós e pela equipe da escola, é uma boa mensagem de cuidado e apoio para
ele. A maior parte do tempo eu vi a SVS operando com uma negligência benigna,
mas nesse caso uma abordagem diferente foi realizada à perfeição. Eu sou grata,
e isso me ajudou a ver a SVS de um jeito novo. Basicamente, o que eu vi
acontecer foi a equipe atendendo ao seu firme desejo de ir nessa excursão
quando decidiu apoiá-lo, de um jeito que mostrava que ele estava pronto para a
viagem, ainda que ao fazer isso a equipe acabou tendo mais trabalho e mais
responsabilidade.”
O
que me surpreendeu nas falas dessas duas mães foi quanto tempo leva de fato,
mesmo para aqueles que mandam seus pequenos filhos para a SVS, para entender
como a escola realmente funciona. Eles confiam o suficiente em suas crianças
para trazê-las à escola e permitir que elas sejam responsáveis por si mesmas,
mas os pais não sabem realmente como a equipe trabalha. Na verdade, eu mesma
sou incapaz de explicar isso muito bem e eu acho que essa seja uma das causas
para a dificuldade que muitos pais têm de matricular seus filhos em nossa
escola. O problema é que a negligência benigna parece pura negligência. Somente
em circunstâncias extraordinárias os pais conseguem ver como a equipe está
interagindo com seus filhos. No dia-a-dia o cuidado e o empoderamento têm lugar
o tempo todo, mas de uma forma tão sutil e tranquila que ninguém repara – nem a
equipe, nem as crianças, nem os pais. Isso simplesmente ocorre naturalmente.
Mas de tempos em tempos as circunstâncias exigem da equipe que ela reúna todos
os seus recursos e dirija toda a sua atenção e energia para as questões de um
estudante. Quando isso acontece, essa atividade intensa lança luz sobre o que
acontece na SVS todo dia de um modo mais silencioso e sutil.
Assim,
parece que “disponibilidade sem presença constante” é de fato o que fazemos na
SVS. Nem sempre nós respondemos instantaneamente a todos os pedidos, pois nós
normalmente estamos ocupados com um estudante ou com qualquer outra coisa que
fazemos para manter a escola funcionando. Temos que usar nosso bom senso e
decidir em cada caso se continuamos a fazer o que estávamos fazendo ou se
paramos para atender a um pedido. Normalmente, marcamos um encontro para depois
e isso funciona muito bem. Frequentemente, isso força as crianças a resolver
sozinhas seus problemas e isso certamente é outro jeito de elas ganharem
confiança em si mesmas. Mas eventualmente acontece algo que não pode esperar e
temos que largar tudo para acudir alguém. Nesses casos é fácil para nós
responder prontamente, pois todas as crianças sentem a urgência e elas querem
que nós ajudemos seu amigo que está encrencado ou sofrendo. O apoio que cada
criança dá uma a outra é da mesma qualidade e estilo do apoio dado pela equipe.
Elas ajudam quando solicitadas e dão espaço umas às outras quando isso é
pedido.
À
medida que os anos passam, nós nos tornamos melhores como membros da equipe da
SVS. Nós aprendemos a arte de permitir que as crianças sejam nossas guias em
atender as suas necessidades e nós fazemos mais por elas quando fazemos menos –
não interferindo, enquanto ouvimos cuidadosamente o que elas desejam.
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