sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

"Nas próximas férias, divirta-se com suas crianças - e deixe-as se divertirem!"

O texto a seguir é de Daniel Greenberg, um dos fundadores da Sudbury Valley School, uma escola livre e democrática que existe desde 1968, nos Estados Unidos. Acho que ele traz umas ideias bem pertinentes, especialmente nessa época do ano (férias escolares!). Espero que gostem. Ah, estou publicando minha tradução aqui com autorização do autor!

Nas próximas férias, divirta-se com suas crianças - e deixe-as se divertirem!


Daniel Greenberg (In: GREENBERG, Daniel. Education in America - a view from Sudbury Valley. Framingham: Sudbury Valley School Press, 1992. p. 92-95)


Tradução de Luís Gustavo Guadalupe Silveira

As férias de final de ano sempre nos dão a oportunidade de nos confrontarmos com a terrível bagunça que o Homem Moderno fez com a atividade natural mais básica das espécies -- a educação dos filhos. Jornais diários, revistas, programas de TV, todos trazem constantes lembretes de quão incompetentes nós temos sido em administrar nossos negócios nessa área crítica.
Primeiramente, algumas poucas palavras a respeito de coisas básicas. É inegável que adultos de todas as espécies foram dotados pela natureza com todos os instintos, reflexos, intuições e hábitos próprios necessários para realizar com sucesso a criação dos recém-nascidos membros da espécie. De outro modo, nenhuma espécie sobreviveria, já que a fase mais desamparada e vulnerável de toda a existência dos animais é a inicial, após o nascimento. Além disso, também está fora de questão que toda espécie é dotada do impulso funtamental de procriar. E, finalmente, a sobrevivência determina que os jovens de todas as espécies desenvolvam habilidades para crescer e se tornar adultos bem-sucedidos. Esses três fatos básicos da vida são universais, e são essenciais para a preservação de toda e qualquer espécie, em toda a escala evolucionária.
O que isso tem a ver com as férias, você pode estar se perguntando. Bem, a primeira coisa que você vê, digamos, no Middlesex News, é um monte de colunas com o seguinte tema: “Vixe, férias de novo! Estamos presos com nossos filhos! Não tem escola para ocupá-los o dia todo! O que faremos? Como lidar com eles, entretê-los, mantê-los longe de encrencas, nos livrar deles?” E os escritores, entra ano, sai ano, fornecem listas de fórmulas para aplacar o pânico dos corações dos pais por terem que lidar com suas crianças diariamente. Agora, isso não é estranho? Não fomos nós que decidimos ter esses filhos, em primeiro lugar? Nós não somos dotados das mesmas habilidades inatas para lidar com eles que tínhamos quando eles apareceram em nossas vidas? O que deu errado?
E então temos a segunda categoria de conselhos que obtemos de uma horda de colunistas bem-intencionados, nos dizendo como garantir que o tempo livre que nossas crianças passam fora da escola seja adequadamente utilizado, para que elas estejam aprendendo coisas úteis o tempo todo -- por exemplo, estudos sociais, ou conceitos matemáticos, ou história, ou geografia. A maior parte do tempo, dentro do possível, deve ser gasta incutindo conceitos educacionais aprovados e recomendados por profissionais. Deus nos livre de crianças que passem suas férias brincando e se divertindo do seu próprio jeito! Elas estariam “perdendo tempo.” Ninguém mais acredita que a natureza conferiu às nossas crianças o desejo inato de aprender sobre seu ambiente, de crescer para se tornar adultos bem-sucedidos? Será que alguém realmente acredita que a espécie humana seria pior do que atualmente é se nós déssemos um passo atrás para deixar que as crianças descubram as coisas sozinhas?
Pode ser útil dar uma olhada nas páginas dos escritos dos antropólogos, para ver o que podemos aprender com outras culturas a respeito do tratamento dispensado às crianças. A maior parte das sociedades indígenas ao redor do mundo exige que seus adultos possuam habilidades extraordinariamente refinadas, para que possam viver em harmonia dentro de seu ambiente natural. De fato, as habilidades necessárias excedem de longe aquelas que a maior parte dos povos ocidentais possui hoje, em nosso mundo tecnológico, no qual dependemos de objetos inanimados para substituir a força humana. Assim, os povos considerados “primitivos” devem desenvolver grande perícia em áreas tais como rastreamento, caça, resistência física, corrida de longa distância, paciência, controle emocional, repressão de todos os desejos e especialmente memorizar o conhecimento e a sabedoria de sua cultura. A pressão nas sociedades indígenas para fazer com que suas crianças cresçam dominando essas habilidades excede em muito a pressão da nossa sociedade para que nossas crianças aprendam matemática ou estudos sociais. Crianças nativas que não aprendem o “básico” quase certamente irão morrer, enquanto as crianças modernas no máximo irão terminar em empregos ruins ou ficarão sob a tutela de outros.
Agora, dada essa pressão nas sociedades nativas, como elas tratam as crianças? Novamente, a resposta é simples e virtualmente universal. Para preparar suas crianças para enfrentar os rigores da vida, essas sociedades dão a elas amor, afeição, carinho sem fim e, mais importante de tudo, liberdade para brincar praticamente o tempo todo e para observar livremente as atividades de sua aldeia. Supõe-se que as crianças irão querer, mais do que tudo, se tornar pessoas completas, para contribuir com suas sociedades como adultos: e a liberdade dada aos adultos é um reconhecimento do fato de que ninguém sabe melhor do que a Natureza como cada criança pode melhor atingir a maturidade. A Natureza é a mestra e as inclinações, os instintos e os impulsos naturais das crianças são considerados dignos de confiança para guiar as crianças pelos caminhos mais produtivos de suas vidas adultas.
Nós perdemos tanto o contato com nossa essência humana inata que temos medo de estar com nossas crianças, medo de confiar em sua habilidade para encontrar seu caminho na vida, medo de usar nosso próprio bom senso ao invés de depender de “especialistas” em educação -- medo de ser.
Essa situação não tem remédio? Não sei. Mas ao menos nós podemos tentar. E cada um de nós pode começar nas próximas férias, fazendo coisas que gostamos com nossas crianças, permitindo que nossas crianças tenham a liberdade para fazer as coisas que gostam, e por nos surpreender ao ter férias tão prazerozas com nossas crianças que nós, tanto quanto elas, fiquemos extremamente infelizes quando fevereiro chegar e elas tenham que retornar para a escola novamente!
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Esquecemos a TV?! Como anda o nosso dia-a-dia...

Completamos mais de três meses sem acesso a canais abertos ou fechados de televisão aqui em casa... e, por incrível que pareça, já esquecemos dela, de como era e como a gente ficava preso naquela tela a maior parte do nosso tempo em casa. Isso são águas passadas...

Acordamos sem ela e assim continuamos o resto do dia e da noite. E o mais legal é a naturalidade com que as crianças a esqueceram, principalmente o Yuri, que ficava muito dependente dos desenhos animados... Agora ele acorda e corre para brincar com a cachorra, ou fazer poções mágicas que lhe dão superpoderes, ou desenhar monstros... Dias atrás levantei da cama e o ouvi brincando SOZINHO entre a cozinha e o quintal. Estava ele com um copinho de plástico conversando alegremente com ele mesmo (ou seria com nossa cachorra Otsu?), sobre os poderes mágicos de uma poção que estava deixando ele bem forte... Pode parecer bobagem, mas acho que isso seria difícil de acontecer na época da televisão, pois o Yuri não brincava sozinho! Se não tinha alguém para brincar, ele assistia TV... se a gente "mandava" ele brincar, ele solicitava a nossa presença o tempo todo... se não tinha TV, ficava entediado... E, com apenas três meses sem a televisão, isso mudou completamente...


Agora, a maior parte do tempo, Yuri e Luana inventam brincadeiras juntos ou sozinhos. Brincadeiras mesmo, de faz-de-conta, de jogos de tabuleiro, de pintura ou de música.

Luana tem se esbaldado em suas explorações. Ela adora aventurar-se em seu guarda-roupa atrás de um sapato, de uma roupa ou de um brinquedo... e isso significa, frequentemente, tirar tudo o que tem dentro do armário... E quando a gente chega para ver o que está acontecendo, ela na maior felicidade diz: "olha o que eu achei!". Outra coisa que a atrai bastante é água ou tinta, então, se ela estiver em silêncio por algum tempo e ela não estiver no guarda-roupa, podemos procurá-la pelo banheiro ou perto das tintas. No banheiro, ela costuma dar banho de pia em algum brinquedo ou ver a pasta de dente ou o creme de cabelo escorrer pelo buraco da pia... sim, sim, ela aperta e deixa escorrer... (E é nesses horas que tenho vontade de "apertar seu pescocinho", quem leu o post sobre punição, sabe do que estou falando, quem não leu, pode ler por aqui.). Com as tintas é meio imprevisível a tela que ela pode escolher para pintar, às vezes um papel, outras, uma parede, e outras ainda, o seu próprio corpo como experimento. Fico admirada com sua criatividade e capacidade de explorar diferentes possibilidades de usar uma tinta...


Nossa rotina mudou? Muito! Mas como disse, nos acostumamos muito naturalmente com o dia-a-dia sem a TV e vemos o quanto isso fez diferença na criatividade das crianças... Imagino algumas pessoas comentando a bagunça que a nossa casa se transformou. Na verdade, desligar a TV foi um pontapé na nossa transformação... mudamos não só a televisão de lugar, como mudamos também nossos princípios, nossas prioridades e nossa concepção de bagunça... No meu entendimento, nossa casa ficou mais viva, mais colorida e mais livre... E eu e meu marido tentamos todo dia, a toda hora, nos tornarmos pais menos autoritários e menos donos de tudo. Nossos filhos conquistaram mais autonomia e controle sobre os espaços (e isso é um aprendizado diário, às vezes difícil de ser compreendido por nós, adultos). É muito mais fácil não deixar a filha jogar as roupas todas sobre a cama para escolher a que mais lhe agrada naquele momento, é muito mais fácil colocar a roupinha mais bonitinha e que mais combina com o gosto da mãe do que ver sua filha usar o mesmo vestidinho vermelho e branco dias a fio, é muito mais fácil nem abrir o guarda-roupa e nem deixar sua filha entrar no próprio quarto... mas tudo isso, apesar de mais fácil também é muito mais autoritário, impositor, triste e desestimulante. Autonomia se aprende na prática diária. Acredito que, ao deixar minha filha mexer em seu guarda-roupa, estou de certa maneira, ensinando-a que ela tem capacidade e liberdade de escolha e que escolhas têm consequências... nesse caso, ter que arrumar a bagunça depois (com nossa ajuda) e ter que esperar pelo menos três dias para usar o vestido de novo, pois ele suja, precisa lavar, secar e passar (kkkkkkkk).

Enfim, o que queria dizer é que, ao desligar a televisão visando dentre outras coisa, diminuir a exposição dos nossos filhos (e nossa) à cruel fábrica de consumismo, acabamos descobrindo um mundo novo, mais alegre, mais bonito, mais bagunçado e muito mais real. Literalmente, aqui estamos todos colocando mais a mão na massa, seja em massinhas de modelar, seja em tintas, seja fazendo pães, coxinhas, saladas de frutas, dentre outras coisas gostosas, porque sem televisão sobra tempo para outros experimentos.





quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"Mas eu sou obrigado a aprender isso?"

Tenho lido muita coisa sobre educação atualmente (mais até do que eu sempre li, pois me interesso demais por esse assunto). Gostaria de compartilhar com vocês uma das últimas coisas que li e que trata de um assunto muito interessante: podemos ou devemos obrigar alguém a aprender algo? Não é um tema diretamente ligado à TV, embora esteja relacionado ao contexto geral, que tem a ver com as escolhas que fazemos do que fazer com nosso tempo, as escolhas das atividades e fontes de aprendizado para nós e nossos filhos etc. Posto aqui um artigo da educadora Cathrine Gobron, diretora da North Star, que acabei de traduzir. Se você quiser ler o original, clique aqui.

Galinhas e ruas: por que a instrução compulsória é desnecessária

Catherine Gobron – Diretora da North Star: Aprendizagem auto-dirigida para adolescentes


Eu trabalho num programa educacional para adolescentes no qual os estudantes têm total controle sobre seu próprio horário e não têm nenhuma exigência acadêmica. Somos muito questionados sobre como isso poderia funcionar. Uma pergunta frequente é: “Como as crianças vão aprender a fazer coisas de que elas não gostam se elas não são obrigadas a fazê-las?”
Você deveria pensar que a educação formal deveria buscar algo um pouco mais elevado do que ensinar as crianças a suportar as obrigações. Mas a pergunta surge o tempo todo.
Aqui está a minha resposta:
Tarefas desagradáveis são abundantes. A vida é absolutamente repleta de coisas que preferimos não fazer.  Lavar roupa, lavar louça, passear com o cachorro, aspirar o carro, aparar a grama, escrever bilhetes de agradecimento para a sua avó, trocar o óleo do carro, negociar com a companhia de seguros... Há uma lista infinita de coisas que fazemos apesar de não querermos fazer. De vez em quando, adiamos uma ou outra dessas necessidades, e sofremos as consequências, seja viver temporariamente com a louça suja ou ter o carro apreendido por não ter pagado as multas. Não precisamos praticar fazer coisas de que não gostamos, e não precisamos praticar sofrer as consequências. A vida está cheia das duas coisas. Elas dificilmente podem ser evitadas.
Além disso, em minha experiência não vejo nenhuma diferença entre aqueles que foram à escolar e aqueles que não foram no que diz respeito à habilidade de realizar atividades desagradáveis. Anos de lições monótonas e exercícios insípidos não parecem aumentar a probabilidade de alguém manter os dentes limpos regularmente, por exemplo. Anos de tarefas obrigatórias e rotineiras podem aumentar a resignação de uma pessoa a uma insossa vida profissional adulta, mas essa é uma meta digna para a educação?
Por que a galinha atravessou a rua? (Para chegar do outro lado, claro.) Por que fazemos qualquer coisa? Simplesmente para fazer, ou porque há algo do outro lado que pensamos valer a pena ter ou conhecer ou experimentar. Ninguém precisa fazer pessoas (ou galinhas) atravessarem a rua. Você pode ajudar alguém a alcançar sua meta olhando um mapa com ele ou ajudando-o a pensar em seus planos. Não há necessidade de fazê-lo atravessar nenhuma rua em especial, metaforicamente ou não. Na verdade, tentar fazer isso é uma boa maneira de evitar que uma pessoa deseje atravessar ou que obtenha algo na jornada.
Obrigar as pessoas a fazerem coisas que não gostam as encoraja a não gostar daquilo a que estão sendo obrigadas, ainda que essa coisa seja divertida ou valiosa. Se uma pessoa encontra uma rua que vale a pena atravessar, ela irá atravessar. Os ajudantes em sua vida podem ser úteis acreditando que ela pode fazer isso e que irá fazer, e dizendo isso a ela. Outras maneiras úteis de ajudar se tornarão evidentes por meio da interação e da discussão.
Como os jovens irão aprender a fazer coisas de que não gostam? Estabelecendo suas próprias metas e tendo confiança para trabalhar por elas. Não há necessidade de procurar ou criar desafios ou obstáculos desagradáveis. Eles vão encontrá-lo. A pessoa que é motivada por seus próprios desejos e ideais irá trabalhar em meio e ao redor dos obstáculos. A prática consiste em fazer.
Todos os dias em meu local de trabalho eu vejo adolescentes ignorarem jogos e diversão em seu caminho para a aula. Por que os adolescentes iriam para a aula quando eles podem brincar lá fora ou fazer outra coisa mais legal? Porque eles querem. Não há necessidade de obrigá-los. As crianças que não estão na aula estão fazendo outras coisas importantes, que poderiam ser qualquer coisa, desde fazer amigos até juntar coragem para encarar consequências.
Aprendizagem não-compulsória se beneficia de reflexão, abertura, apoio e discussão. Obrigar é desnecessário, e mesmo contraprodutivo, para o aprendizado.
Quando pensamos em nossa própria vida adulta, esses argumentos são óbvios. Nós fazemos coisas que somos motivados a fazer e nos sobressaímos nas coisas de que gostamos. Crianças também.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sobre punição

Eu achava que estava me controlando ao não punir fisicamente meus filhos por comportamentos inadequados (tento o máximo possível não encostar a mão de forma agressiva neles)... Sou contra a violência, qualquer que seja a sua forma de expressão. Já estudei bastante sobre o assunto e tenho mestrado e especialização nessa área de violência contra crianças e adolescentes.

Porém, a vida com nossos filhos nos ensina diariamente a repensar e a rever nossas atitudes. Dias atrás, li um texto que mexeu muito com minhas convicções: 

“(...) é bom ficar claro, que a punição, em qualquer circunstância e sob qualquer forma traz consequências ruins para a criança. A punição, seja batendo, seja colocando de castigo, seja através da fala ou mesmo de um olhar ensina para a criança que nosso amor por ela é condicionado. Ou seja, só a amamos quando ela se comporta da forma que nós achamos certo” 
(trecho do texto: "Há Tempos que Eu não Via um Pai bater em um Filho! do blog “Filhas e filhos” e que vale muito ser lido na íntegra)

Ao ler, me senti culpada e revi minhas atitudes. Nesse texto, o castigo ou o olhar de reprovação são colocados no mesmo balaio da punição física... Me pergunto: Será?

Quando leio um texto desse tipo me lembro que constantemente perco a paciência com meus filhos por motivos banais... principalmente quando eles não atendem a um pedido meu no momento exato que o faço. Se peço uma coisa mais de três vezes, minha reação "normal" é falar mais alto e até gritar para ser escutada... Também uso de chantagens, tipo, se não fizer isso não vai poder fazer aquilo... e coisa e tal. Falo isso com vergonha e aperto no peito, pois teoricamente sei que esse tipo de artifícios não ensinam nenhuma criança a se auto-gerir, apenas a condiciona a fazer aquilo que esperamos dela... E muitas vezes fazemos isso com a "melhor" das intenções, com a desculpa de que precisamos educá-las e colocar limites. Mas a questão é: o que nos tira do sério? Realmente agimos para educá-las ou agimos apenas para satisfazer nossos desejos? Os limites e punições realmente dizem respeito a comportamentos inapropriados das crianças ou somos nós que não conseguimos escutar e respeitar o tempo e momento de nossos filhos?

Em consonância com essas minhas questões, segue um outro texto provocador: "Seu filho te tira do sério? Isso é sério!". Um texto que volta o descontrole para nós, adultos, e que nos devolve as nossas frustrações e os nossos problemas.

Como disse, sempre fui contra a violência, seja ela física, sexual, psicológica ou por negligência. Aqui em casa nunca consideramos bater como uma opção de método de educação. Somos contra tapas, puxões de orelha, "coques"... não acreditamos que isso ensine bons comportamentos. Acreditamos que quando batemos estamos ensinando aos nossos filhos que esse é um meio de resolver conflitos e que é usado por alguém mais forte sobre um mais fraco... Ensinamos ele a bater... Confesso que na hora da raiva sinto vontade de "esganar a criatura", que quando eles ferem meu orgulho de boa mãe ou não me obedecem tenho vontade de segurá-los à força e obrigá-los a agirem como eu gostaria. Mas, confesso ainda coisa pior e inaceitável, que é o fato de mesmo sendo contra a violência, pessoalmente e profissionalmente, já dei uns tapinhas nas mãozinhas deles (quando digo tapinhas não estou tentando amenizar a violência do ato não, pois a intenção é a mesma de um tapa mais forte) por total falta de controle meu. Devo ter batido umas duas vezes em cada um, ao longo de seus 6 e 3 anos. E me sinto péssima ao reconhecer que fiz isso simplesmente por falta de controle e sempre relacionado a alguma coisa que eles fizeram e me machucaram fisicamente. Confesso minha culpa e não tentarei justificar o ato. Ao confessar pretendo mostrar que também cometo falhas e que não pretendo ser modelo de boa mãe. Mas que estou disposta a repensar e melhorar sempre... E dessa vez, revendo mais ainda outros atos além da questão física, repensando minhas "chantagens" e castigos (que felizmente diminuímos quase a zero por aqui depois que desligamos a TV... que engraçado, ainda não tinha feito essa relação, mas é muito verdadeira, depois que desligamos a TV, pararam-se os castigos... acho que isso dá um outro post! , quem sabe o Luis Gustavo não faz essa reflexão pra nós, hein amor?!)

Seguem aí mais dois outros textos muito bons sobre o tema e que não posso deixar de compartilhar: o primeiro: "Castigo para pensar nem pensar!", questiona a eficácia do castigo utilizado como uma forma da criança pensar sobre o que fez e o segundo: "Seu filho é normal como você", é uma bela lição e reflexão sobre os comportamentos "inadequados" de nossos filhos a partir de uma analogia com as nossas próprias reações frente coisas que nos incomodam... Leiam, por favor!

Para terminar, queria compartilhar uma frase que acompanha a minha relação com o meu filho mais velho, o Yuri. Não sei exatamente quando começamos a nos comunicar assim mas já tem mais de três anos com certeza, e sinto que isso foi muito significativo para ele, sendo que, vira e mexe, ele me investiga para saber se ainda continuamos assim.. e que é basicamente separar a raiva do amor e sempre reforçar o amor... Quando ele faz algo que não devia e eu chamo a atenção e fico nervosa a gente lembra da frase, que é a seguinte: "Eu te amo sempre, não gosto disso que você fez, mas eu  continuo te amando". Então em dias que eu nem lembro ele vira e me lembra, "mamãe você me ama mesmo quando eu faço bagunça, né?". Acho que é isso.

Até a próxima inquietação!

E para quem ficou curioso, pode acessar minha dissertação de mestrado  por aqui

domingo, 29 de setembro de 2013

Sobre o sagrado

Mais um domingo. Mais aprendizado. Mais desafios.
Vou pedir licença para escrever sobre mim mesma e meus sentimentos. Pode fugir um  pouco da proposta inicial do blog: descrever as mudanças aqui em casa depois que desligamos a TV. Mas talvez só pareça que fuja, porque desligar a TV está relacionado com uma busca por mais coerência e qualidade de vida e também porque meus processos se misturam com os deles e vice-versa. E ainda porque especificamente esses sentimentos de hoje estão diretamente relacionados com um movimento meu de buscar atividades para nós que estejam em sintonia com o que acreditamos. A desse final de semana foi um presente!
Eis-me aí!

Hoje trombei comigo mesma de mais de quinze anos atrás. Foi um presente.  Mais intenso do que sou capaz de compreender... Reconectar-me a mim mesma, resgatar pedaços e revivê-los com o que sou hoje... E a cada dia eu fico mais grata pelas experiências vividas (e agora revividas) durante a minha adolescência.

 Palavras que utilizo hoje, para compreender e explicar as coisas que acredito, foram cravadas na minha pele ainda jovem: protagonismo, educação para a paz, solidariedade, educação de pares, respeito, diversidade, desescolarização?!?

Hoje tropecei em mim mesma, um pouco esquecida. Eu, Gaia, ancestral, “o outro de você”. Eu, terra, fogo, água e ar. Que invoca deusas e deuses e canta em outras línguas.

Hoje, ao ver meus filhos ao redor de uma fogueira construída por eles, ao som de tambores, eu me emocionei e reverenciei a vida, minha e deles. E eles dançaram, cantaram, dispersaram seus medos.

Eu voltei no tempo, voltei para as minhas danças ao redor de fogueiras, ao meu sentimento de fazer parte de algo maior, de me sentir protegida, de me sentir parte de um TODO. E reencontrei alguns mestres (Kaka Werá, Ricardo, Sônia...).

Hoje, sem me preparar, eu voltei para um círculo, para uma roda em torno do fogo, para as danças sagradas. E me senti bem.


Hoje sei que não estou começando nenhum processo novo. Novos desafios, sim.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Um blog legal!

Esse post é só para divulgar e valorizar um outro blog bem interessante e cheio de informações claras, embasadas e bem argumentadas sobre a necessidade de um maior controle e restrições da propaganda voltada para a infância. Se chama Infância Livre de Consumismo. Um blog cheio de conteúdos interessantes e que discutem justamente a necessidade de maior controle das mídias para a infância. Cada vez fica mais claro o quanto a mídia é manipuladora e sem escrúpulos para atingir seus objetivos: fazer a gente consumir mais e mais.

E esse mês que se anuncia - outubro - a coisa toda piora... nem acredito que aqui em casa não estamos sofrendo o bombardeio de propagandas de brinquedos e mais brinquedos nos longos intervalos dos desenhos animados... Só agora me atinei que não temos visto mais uma mesma cena inúmeras vezes no mesmo dia... seja de uma mesma propaganda (às vezes me lembro que elas se repetiam até no mesmo intervalo!?!), seja de um mesmo desenho, umas três vezes na mesma semana! Nossa, que delícia sentir essa libertação! Não sei como a gente se acostuma com essa poluição visual e sonora... agora que estou mais afastada é que vejo como isso é desgastante. Outra coisa que também mudou por aqui foi a "pedição" por novos brinquedos. Praticamente parou. Antes isso era diário, era só aparecer na TV e lá vinha um: "mãe, compra isso pra mim!". Parou!

E tem mais! Já separamos alguns brinquedos para doar e estamos pensando em algo para a comemoração do dia das crianças... quem sabe esse ano sai a feira de troca de brinquedos por aqui?

Fica a dica: Infância livre de consumismo




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Deslizes

Hoje compartilho sobre a falta da "babá etetrônica", mais comumente conhecida como televisão. De uma forma geral, a TV já deixou de fazer parte do nosso repertório de atividades diárias. Eu, Luis Gustavo e Luana já nem nos lembramos dela. O Yuri ainda vive seus momentos de saudade e a solicita com certa regularidade, mas bem menos do que eu achava que seria visto a sua "paixão" pelos desenhos.

É muito emocionante perceber que eles estão buscando outras atividades, outros movimentos, outros contatos para "preencher" seu tempo. É legal ver eles acordando e indo procurar folhas pra desenhar ou ajudando a preparar o café ou indo brincar com a Otsu (nossa cachorra) ou ainda pedindo para ir ao clube para brincar de construir castelos na areia..., principalmente quando essas iniciativas partem espontaneamente do Yuri, que antes abria mão de qualquer coisa por uma TV ou video-game.

Mas agora preciso contar das minhas fraquezas (para não transparecer que tudo é melhor e mais fácil sem a TV).

Sábado que passou eu tinha que sair cedo para um curso. Acordei para me arrumar, Yuri acordou junto. Gu e Luana continuavam dormindo. Enquanto preparava o café, Yuri pediu para ver um filminho. Deixei pensando que assim ficaria mais fácil de eu me arrumar para o curso.
Outro vez, semana retrasada, foi pior! Estava sozinha com as crianças, elas acordaram e eu anda com muito sono... elas, em cima da minha cama, me cutucando, tentando me acordar. E eu sugeri: Por que não vão ver desenho?!?

Pequenos deslizes... que me fazem perceber que às vezes a necessidade é mais nossa do que delas..

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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

TV e formação do cérebro

Foram muitas coisas que nos fizeram tomar a decisão de "desligar" (ou "reduzir muito") a TV, entre elas os estudos que apontam para problemas na formação do cérebro infantil exposto à qualquer tipo de programa. Considerando a plasticidade de nosso cérebro, acho que os adolescentes e os adultos também deveriam se preocupar :) Seguem um texto e uma TED talk sobre o assunto, bem interessantes:

DÉFICIT DE ATENÇÃO

Estudo comprova malefícios da TV no cérebro de crianças

Lindsey Tanner

Tirem as crianças da frente da TV. Pesquisadores descobriram que cada hora passada diante da televisão faz com que crianças em idade pré-escolar aumentem suas chances de desenvolver problemas de déficit de atenção mais tarde.
Os resultados atestam que a TV pode diminuir os níveis de atenção das crianças e apóiam a recomendação da Academia Americana de Pediatria, segundo a qual crianças com menos de dois anos não devem assistir a programas de televisão.
“Existem milhares de motivos para que as crianças não vejam TV. Estudos anteriores mostraram que o hábito está associado a obesidade e agressividade infantil”, afirma Dimitri Christakis, pesquisador do Centro Médico Regional de Seattle. O resultado do estudo conduzido pelo doutor Christakis foi divulgado na edição de abril da revista Pediatrics, publicada pela Academia Americana de Pediatria.
Foram pesquisadas 1.345 crianças de um a três anos de idade. De acordo com informações fornecidas pelos pais, aproximadamente 36% das crianças de um ano não assistiam nunca à TV, enquanto 37% assistiam de uma a duas horas por dia e por isso possuiam um aumento de 10 a 20% de chances de desenvolverem problemas de atenção. Nas crianças de três anos, apenas 7% não viam TV e 44% assistiam de uma a duas horas por dia. O resultado da pesquisa sugere que o hábito de ver TV superestimula e modifica o desenvolvimento normal do cérebro de uma criança. Entre os riscos encontrados estão dificuldade de concentração, impulsividade, impaciência e confusão mental.
Os pesquisadores não se preocuparam em saber que programas as crianças assistiam, pois, segundo Christakis, o conteúdo não é o culpado pelos danos causados ao cérebro. O problema é a rápida superposição de elementos visuais, típica dos programas de TV. “O cérebro de uma criança se desenvolve muito rapidamente durante os primeiros três anos de vida. Ele está realmente sendo ‘conectado’ neste tempo”, diz o pesquisador. O estímulo excessivo durante este período em particular pode criar mecanismos danosos à mente da criança.

TEDxRainier - Dimitri Christakis - Media and Children

domingo, 1 de setembro de 2013

O rato que sai da TV



Revelando o mistério do nome do blog

Afinal, de onde surgiu esse nome para o blog? Essa história é uma feliz coincidência, ou melhor dizendo, sincronia, de fatos... Mais ou menos um mês antes de resolvermos testar desligar a TV, a professora Kátia me chamou depois da aula para me entregar um "livrinho" que o Yuri tinha feito livremente para ela. Como ela tinha gostado muito, resolveu compartilhá-lo conosco para quem sabe a gente inventasse alguma coisa com ele. Nosso projeto foi desde o início transformá-lo em um livrinho, pois os desenhos foram feitos em tiras de papel, como uma história em quadrinhos. Eram só ilustrações. Em casa, escaneamos os desenhos e colocamos o texto da história que ele nos contou. Demos um tempo para o projeto do livrinho pois a próxima fase é o próprio Yuri escrever o texto com a letrinha dele (coisa que precisamos da vontade e interesse dele e isso vai bem aos pouquinhos... ele gosta mesmo é de desenhar, e está no auge do seu momento monstros, tá desenhando uns 15 monstros por dia!!!).
Enfim, a história aconteceu e ficou estacionada... O processo da não TV começou e coisa e tal e no dia de pensar no blog, as duas coisas se conectaram em mim. A história do Yuri voltou forte e eu fiquei emocionada com a força da mensagem que ele sem que a gente percebesse estava nos passando... uma TV engolindo uma criança!!!

Não conversamos com ele sobre essa relação até hoje, mas antes de dormir hoje, conversamos um pouco sobre as mudanças que estamos sentindo aqui em casa desde que desligamos a TV. Yuri e Luana concordam que estamos passeando mais e inventando outras coisas diferentes pra fazer, embora o Yuri ainda insista em dizer que sente falta dos desenhos animados.

Só para terminar, um pequeno relato do nosso final de semana: sábado de manhã, caçamos insetos e pequenas criaturas na horta da casa da vovó e do vovô (baseados em uma demanda da Luana em ir na "fazendinha" de mini-animais montada em um shopping, que foi divulgada em sua escola). Achamos tatu-bola, casinhas de caracol vazias, minhoquinhas, lagartas e até uma casca de uma cobrinha de duas cabeças!!! Uma aventura! No final da tarde, fomos ao CAMARU, um parque de exposição da cidade onde acontece uma feira anual de animais devido o aniversário da cidade, vimos cavalos, bois e vacas de todos os tipos! Vimos um tantão de mini-animais, vimos tirar o leite da vaca e até demos uma voltinha no parque de diversões. No domingo (hoje), começamos o dia assistindo novamente dois espetáculos de ballets infantis em DVD, depois fomos ao supermercado, almoçamos em um restaurante, descansamos um pouco em casa (nessa hora de descanso, Yuri jogou um pouco de video-game com o pai e Luana viu um pouquinho de "filminho", escolheu as músicas do "Cocoricó") e ainda tivemos fôlego para ir ao teatro ("A Cor Sem Lugar Algum, baseada no livro "Flicts" do Ziraldo). Imagine duas crianças interagindo com uma peça de teatro de um livro que elas conhecem! Multiplique por dez! Eram o Yuri e a Luana nessa peça! Terminamos o dia com pizza!

Mas, voltando ao assunto do nome do blog, tá aqui o livro do Yuri! Boa noite!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sobre festas de aniversários de crianças


Esse post foi motivado por algumas sementes de girassol. Sementes que plantamos em nossa casa essa semana e que brotaram. Sementes de um aniversário que fomos no último domingo, de uma coleguinha de escola do Yuri. O aniversário foi em sua casa, “uma chácara”, no gramado, e a lembrancinha foi essa: sementes, um pote e terra.

Eu sempre gostei de festas, sou uma pessoa social, que gosta de comemorar e de compartilhar momentos. Quando os meninos nasceram, essa comemoração e compartilhamento ganharam novos sabores. Mas também comecei a frequentar festas de aniversários de crianças (várias!) e os questionamentos são inevitáveis.Começando pelos buffets das festas infantis. Tipo de festa comum atualmente mas que praticamente não existia na minha infância. Reconheço a praticidade e conforto de se contratar um lugar com a festa, mas me incomoda muito a homogeneização. Festa infantil em salão de festa é sempre igual! Nenhuma marca pessoal. Muda-se a decoração da mesa de bolo e só. E mesmo a decoração não muda muito, os temas são sempre os mesmos. A festa está pronta, o aniversariante e sua família são apenas “convidados especiais”, pois é quem paga pela festa. Nenhum trabalho para montar, preparar, limpar ou estruturar a festa. Isso é visto como vantagem para a maioria das pessoas. Para nós sempre foi esquisito essa tal impessoalidade. Gostamos de pôr a mão na massa, do suor, do estresse e da “perda” de tempo meses antes para inventar e preparar a mesma... gostamos de imprimir a nossa cara na festa. Gostamos de enfeitar a nossa casa. Desde a escolha do tema, até construir os enfeites, as brincadeiras e as lembrancinhas. Trabalhoso mesmo! Acabamos precisando da ajuda de muitas mãos e aí envolvemos a família toda: avós, tios, bisavós e quem estiver por perto. E já inventamos algumas festas em casa extra aniversários, tipo carnaval e hallowen.


Festa de Hallowen: todos os preparativos foram feitos por nós e
 pelos convidados... desde comprar as abóboras, fazer os enfeites da
parede, brincadeiras de caça ao tesouro e essas guloseimas que
uma convidada teve a criatividade de fazer!

Já virou tradição a tal piñata... essa até foi fácil destruir, mas a
última, uma casinha para a feta dos 3 proquinhos deu um trabalhão.
Foi o vô que conseguiu destruí-la na "pancada" depois dos
meninos tentarem um tempão

Uma decoração de mesa: as árvores, os tios que fizeram. Os bichos de
pelúcia são nossos, da época que eu era criança, o forro pregado na parede
eu comprei em uma loja de tecidos. 


Vamos dançar? As fantasias são de camisetas velhas muito bem
reaproveitadas!


Outro ponto são as comemorações na escola. Não gosto muito, pois é rápida e só para as crianças, mas com o tempo entendi que para as crianças faz muito sentido, afinal são aquelas crianças e pessoas que ela convive a grande parte do tempo e cantar o parabéns com elas é prazeroso. Meu incômodo maior é com o tipo de lembrancinhas... costuma ser um monte de doces. E como tem sempre uma festa, vem sempre muito doce pra casa. Esse ano a escola dos meus filhos até mandou um bilhete, sugerindo que as famílias tentassem evitar os doces e pensassem em novas formas de lembrancinhas... Ainda bem que a escola não apoia essa mania de dar sempre doces pra crianças! Depois desse bilhete as coisas até melhoram... Esse ano a lembrancinha que fizemos para a escola foram: um jogo de boliche para a turma da Luana (3 anos) e um conjunto de livrinho de atividades, lápis e borracha para a turma do Yuri (6 anos). Detalhe: o boliche foi construído com meses guardando as garrafas de iogurte e coalhada que consumimos... Guardamos as garrafas e depois as enfeitamos, só precisamos comprar as bolinhas.



Esse ano também resolvemos experimentar não fazer festa aqui em casa. Fizemos a da escola e com a família a comemoração foi uma viagem. Convidamos os avós, os tios e o primo para um final de semana em um hotel (estilo fazenda). A idéia foi passar um tempo juntos, sem outras preocupações, um tempo para os meninos. E foi muito gostoso andar de bicicleta, caminhar, brincar de balanço e jogar ping-pong com a família. Foi engraçado andar de pedalinho e cansar as pernas! E andar a cavalo então, pura emoção. Uma das coisas que motivou essa viagem foi pensar que o mesmo custo que teríamos para fazer uma festa e chamar um monte de “amigos” que encontramos algumas poucas vezes no ano, a gente gastaria com essa viagem com pessoas bem íntimas e que realmente fazem parte do dia-a dia das crianças. Enfim, foi uma experiência bem prazerosa, pode ser que vire tradição e as festas acabem sendo realizadas em casa só em outras datas comemorativas... vamos ver...
Ah! ia me esquecendo! também fizemos "vaquinha" pro presente. Combinamos com a família que a gente não queria um monte de presentes não. cada um escolheu um presente e dividimos o valor entre todos.



Gostaria ainda de agradecer a oportunidade de ter participado de algumas festas bem legais de outros amigos e familiares que também assumem o risco de fazer festas menos práticas. Me lembro de várias! Tipo um piquenique no Parque do Sabiá ou mesmo nas casas das crianças, com direito a tinta, barro, quebra de vaso de vidro, correira, grama. Festas com cheiro de casa, com preocupação de quais espaços da casa as crianças podem ou devem circular e onde não pode, com pais participando das brincadeiras e dos filhos (outro detalhe dos buffets: os monitores!!! Confesso que adoro o sossego de sentar na cadeira e relaxar, pois tem um monitor vigiando cada brinquedo e consequentemente as crianças, mas é pra isso que vamos em festas???).

Ah! E as sementes de girassol brotaram, já foram transplantadas por jardim e estão enormes... os meninos regam todo dia e logo teremos girassóis em casa!


Bom, é isso, só um desabafo e uma reflexão. Como disse, eu adoro festa, de qualquer jeito, mas as caseiras me enfeitiçam mais!

sábado, 24 de agosto de 2013

Feliz coincidência ou "Dostoiévski é o cara!"

Enquanto as crianças brincavam na praça, com novelos de lã e poesia e movimento, eu estava sentado em um banco, de longe, só observando. Quando interrompia a observação, continuava a ler O Idiota, do Dostoiévski, que peguei com os meninos na biblioteca municipal no início da semana. Vou transcrever abaixo alguns trechos (p. 91 e 92) que eu estava lendo exatamente naquela hora e que "parecem" ter a ver não só com o que acontecia na praça, mas com o momento geral pelo que passamos:

"Pode-se dizer tudo a uma criança - tudo; sempre me deixou perplexo a idéia de como os grandes conhecem mal as crianças, os pais e as mães conhecem mal até os seus próprios filhos."

"Referindo-se à 'profundidade terrível, incrível da compreensão' com que a criança 'de repente assimila - sem que se saiba de que modo - outras idéias que, pareceria, eram-lhe totalmente inacessíveis', ele [Dostoiévski] escreve: 'Uma criança de cinco, seis anos às vezes sabe a respeito de Deus ou do bem e do mal coisas tão surpreendentes e de uma profundidade tão inesperada que você conclui involuntariamente que a natureza dotou essa criança de certos recursos de aquisição de conhecimentos que nós não só desconhecemos, mas, com base na pedagogia, deveríamos quase refutar... ela possivelmente sabe sobre Deus tanto quanto você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal, sobre o que é vergonhoso ou lisonjeiro'."

"Dostoiévski escreveu no Diário de um escritor, fevereiro de 1876: '... não devemos ser arrogantes com as crianças, somos piores que elas. E se lhes ensinamos alguma coisa a fim de torná-las melhores, elas também nos ensinam muito e também nos tornam melhores já com o simples contato com elas. Elas humanizam a nossa alma com seu simples aparecimento entre nós'."

Já dá muito o que pensar, né?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Eita dia cumpriiiiiiido, sô! (Sobre dança, praça, cemitério e rotina)

Compromisso logo de manhãzinha: aula de dança (será que posso chamar assim Fernanda Bevilaqua?, pois a proposta é tão encantadora e tão interessante e global que penso que extrapola qualquer tentativa de enquadramento em uma categoria pre-determinada: dança? educação? corpo? emoção? história?)... Vou descrever a atividade do dia mas deixo aberto o desafio para a Fernanda e a Clara postarem aqui nos comentários mais detalhadamente sobre a proposta do projeto, topam? Enfim, a atividade era as 8:30 e já percebi que vai ser um desafio a gente conseguir chegar no horário. Aqui em casa acho que gostamos de dormir... desde bebês a rotina aqui de casa é a dos meninos dormirem quando fica de noite, portanto, oito horas estamos todos no quarto e até nove, no máximo, eles já estão sonhando (a hora de dormir merece um post só pra ela, muita coisa pra contar!). E eles dormem até mais ou menos oito horas do dia seguinte. Eles revezam entre eles o que vai dormir até mais tarde um pouquinho. Hoje foi o dia do Yuri, eu levantei as sete e meia para tentar organizar tudo e sairmos na hora, logo que levantei cutuquei o Gu (isso se repetiu umas 10 vezes) e ele levantou às oito, quase junto com a Luana. O Yuri, eu tive que acordar às oito e quinze. 

Foto meramente ilustrativa: Mas que parece hoje, parece!
Chegamos ao Uai Q Dança (escola de dança) às quinze pras nove. A turma já havia saído de lá... Isso mesmo, a tal “aula de dança” acontece na cidade, em algum espaço público ali da redondeza... hoje a aula foi em uma praça. Fomos pra lá e ao chegar, encontramos a turma e um cesto de novelos de lã (Ah!!! Muito importante, a turma é composta por meninos e meninas de diferentes idades). Foi um intenso desenrolar e enrolar de lãs, entrelaçado com a vida ao redor, com a fantasia, com o sol e a brisa fria, tintas em linhas colorindo a praça! Uma coisa linda de ver e de viver. É claro que não resisti e entrei na dança, assim como quem se convida para a festa eu também participei. O Gu, ali, sentado, num banco da praça, com seu livro a tira colo, um olho nele e outro na praça colorida. Os meninos, livres, alegres, rodopiando no palco da praça, fazendo e desatando seus nós... E num piscar de olhos, o tempo passou...
                                   

Saímos da aula e já tínhamos um novo passeio: conhecer o cemitério que fica perto da nossa casa. Isso, há alguns dias, Gu e Luana chegaram num papo sobre cemitério e a Luana solicitou conhece-lo. Hoje era o dia. Foi um passeio de família muito interessante. Quanta coisa a aprender, sobre a vida e sobre a morte, túmulos de diferentes tamanhos, formas e imagens... uma imagem se destacou, um homem barbudo carregando ou pregado em uma cruz, e as perguntas brotavam em uma velocidade sem fim... mas por quê isso? Por que eles fizeram isso ou aquilo se ele era bom? O que é crucificado? Jesus é Deus? O que é milagre?.....

Na volta pra casa, paramos em uma vendinha, um mini-sacolão, pra comprar milho. Três mulheres cercadas de “cascas” de milho, cortavam, abriam e limpavam o milho. MUITO MILHO! E foi mais dez minutos de aprendizagem sobre milho, trabalho em equipe e paciência (já tentou tirar cabelo de milho?, os meninos tentaram!).
De volta pra casa, final da manhã. Claro que todos desenhamos o que mais gostamos dos passeios. Almoço, escola e trabalho... Opa, no almoço teve morango de sobremesa e a Luana teve a idéia de levar morango pra escola. Yuri também quis. Solução: passar no supermercado antes da aula e comprar morango para as turmas!

Vou parar o relato linear por aqui... só vou acrescentar que acabei não indo trabalhar pois ao chegar na escola preocupei com os ohos vermelhos da Luana e com um pouquinho de secreção... me atinei que não poderia deixa-la lá, em contato com as outras crianças sabendo do risco de contaminação se fosse início de uma conjuntivite. E não deu outra, sete dias de afastamento da escola! (segundo o Gu, estamos sendo forçados à desescolarização...).

Minha idéia quando comecei a escrever era o de compartilhar a rotina de um dia normal, mas atualmente nossos dias normais estão sendo especiais, uma nova descoberta a cada novo olhar... Coisas simples, como um milho, um morango ou um novelo de lã... coisas raras, únicas e preciosas, como um olhar de surpresa, um abraço apertado, ou a simples lembrança de que não somos eternos, de que o tempo passa e leva com ele os momentos que passaram. Como você tem escolhido viver o seu dia? 

domingo, 18 de agosto de 2013

As mudanças aqui em casa continuam...

Esse feriado foi dia de mudança... A TELEVISÃO saiu do coração de nossa casa. Passou da sala principal para um quarto. A pergunta que tem direcionado nossa energia é a seguinte: afinal, o que queremos fazer em casa? 



 O(s) dia(s) da mudança - a TV saiu da sala!

Daí as mudanças vão acontecendo... A TV foi pro quarto, que agora virou uma pequena sala de “cinema” e os brinquedos, o material de artes, a música e os instrumentos musicais foram pro CENTRO. É isso, ao entrar em nossa casa, a gente chega na sala de criação e brincadeira. A outra sala, a de jantar, também foi invadida pelas caixas com brinquedos.
Esteticamente, ficou desajeitado. Ainda estamos tentando organizar melhor os espaços. Mas os ares já mudaram. Yuri ainda solicita muito a TV mas logo se distrai com algo. Incrível! Ele até esqueceu um pouco do videogame.
Luana nunca foi muito chegada em TV mesmo e acho que ela está adorando essas mudanças, acorda desenhando, cuidando de uma bonequinha ou correndo atrás da nossa cachorra. Por falar nisso, a Otsu tem sentido as mudanças: os meninos estão dando muito trabalho pra ela, passam o dia abraçando, jogando os brinquedos pra ela pegar ou passeando com ela com a coleira pelo quintal.
Hoje à tarde, enquanto eu trabalhava, Luís Gustavo foi à Biblioteca Municipal com as crianças, onde pegaram 6 livros para o final de semana. Depois passaram na papelaria e reabasteceram nosso estoque de tintas, pincéis e canetinhas.
Ainda não comentei, mas a decoração aqui de casa é toda nossa. Os quadros foram substituídos pelas nossas próprias produções, isso é hábito antigo. E o melhor é que vira e mexe mudamos os enfeites da casa. No momento, temos os quadros pintados pelos meninos em homenagem ao Dia dos Pais, um grande papel craft pregado em uma parede com desenhos e recados que estamos produzindo e tem ainda um quadro que o Yuri fez na escola, baseado no quadro “Noite Estrelada” do Vincent van Gogh. 




Aqui, dois trechinhos de um bate-papo meu com os meninos sobre as mudanças.






quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Outra confissão: a babá eletrônica

A história mais antiga que conheço sobre minha relação com a TV me foi contada pelos meus pais. Eu deveria estar com menos de 5 anos e eles tinham um compromisso qualquer fora de casa. Não estavam encontrando ninguém pra cuidar de meu irmão e de mim e já iam desistir do passeio quando eu disse:
- Podem ir, a babá fica com a gente.
- Que babá?
- A TV, ué...
Deu pra sentir que eu via um bocadinho de TV quando era criança, né? Não fazia só isso, claro, e tenho ótimas lembranças de fazenda, acampamentos, basquete na garagem, tardes de brincadeiras. Mas tenho também memórias dos desenhos que via: He-man, Mighty Mightor, She-Ha, Smurfs, Os Herculóides, Space Ghost, Manda Chuva, Formiga Atômica, A tartaruga Tuchê, Frankstein Jr., Maguila o Gorila, Os Impossíveis, Tutubarão, Wally Gator, Tom e Jerry, Super-Amigos (pensando bem, o estúdio Hanna-Barbera é que foi nossa babá), Changeman, Flashman, Jaspion. Tinha também Rá-Tim-Bum e outras coisas que passavam na TV Cultura, Topo Gigio (na Manchete ou na Band?), Fofão... 


Depois, na pré-adolescência e na adolescência, Caverna do Dragão, Cavaleiros do Zodíaco, Castelo Rá-Tim-Bum, Mundo de Beakman, Família Dinossauro, Os Trapalhões, Planeta Terra... A lista é longa. A TV sempre esteve presente mesmo na minha vida. Lá em casa eram duas: uma na sala, compartilhada por todos, e uma no escritório, disputada pela molecada (o vídeo-game ficava lá) e a Luísa, nossa empregada (que via novela lá). Por falar em novela, vi poucas. As das oito, então, nem passei perto, pois dormia antes. Programas que passavam mais tarde, tipo Casseta e Planeta, eram gravados em fitas VHS pra ver no outro dia. Continuei vendo bastante TV: documentários, séries, filmes, culinária etc. Muitas vezes, dormi tarde zapeando e não vendo nada em especial. Demorei a conseguir dormir na frente da TV, que sempre me deixou acordado. Se pudesse, teria visto menos. Pensando na minha infância e pré-adolescência, vejo que muitas das minhas brincadeiras com bonequinhos tinham enredos idênticos aos dos desenhos. Minha imaginação não escapou, hehehe. Mas também lia muito, livros e quadrinhos, e nem sempre ficava na sala babando pra telinha. Em 2003, li um livro que estou relendo hoje, chamado Homo Videns, do Giovanni Sartori, que me fez repensar minha relação com a TV. 




Casei, tinha um aparelho no quarto, via madrugada adentro. Vieram as crianças e dá-lhe Dora Aventureira e Cia. Há alguns anos, parei de ver noticiários e canais da TV aberta. Agora, paramos geral com a TV paga também. Com menos de um mês vendo quase nada de TV perto do que era antes, o que já dá pra perceber é que a gente está se distraindo menos uns dos outros, o tempo livre exige mais da gente, o dia é um desafio, um espaço para criação. É um pouco difícil, mas acredito que as memórias serão mais saborosas do que as do tipo: "Onde está o geninho?"


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Confissão: sobre a desintoxicação da TV

Tenho pensado sobre a minha relação individual com a TV... e como venho me desintoxicando desse processo aos poucos.
Somos casados há 9 anos. Quando casei levei a minha televisãozinha (14 polegadas) para o nosso quarto, no nosso apartamento. Era acostumada a dormir assistindo televisão. Em minha casa todo mundo tinha televisão no quarto, além das televisões nas salas... MUITA TELEVISÃO!!!
Enfim, eu costumava dormir, enquanto o Luís Gustavo varava a madrugada assistindo a programação... Para mim, era e ainda é motivo de relaxamento... É comum eu dormir na sala com a televisão ligada, mesmo quando começo a assistir algum desenho com as crianças...
Pois bem, passamos dois anos no apartamento e quando engravidei, mudamos para uma casa.
Logo que mudamos para essa casa, resolvemos (por sugestão do Luís Gustavo) não colocar a televisão no quarto... Ficamos só com a televisão da sala e guardamos a pequenina no escritório, desligada. Alguns anos depois vendemos ela para um colega de trabalho.
Desde então era só uma televisão em casa. Mas eu ainda assistia novelas e até "Big Brother" (eu confesso). E o Luís Gustavo passava algumas madrugadas assistindo qualquer coisa.
Mais ou menos quando engravidei da Luana, outra mudança. Resolvemos trocar a operadora de TV a cabo e mudamos para uma que não tinha a Rede Globo. Achei que seria difícil acostumar a ficar sem novela, mas me adaptei rapidamente... (troquei por seriados e programas de culinária). O mais difícil desses canais pagos é que um mês assistindo o mesmo canal e você não aguenta mais a repetição dos programas. Eles repetem e repetem infinitamente a mesma coisa!
E de repente a gente já não tinha mais Globo. Também paramos de assistir telejornais, por opção e por considerar a mídia sensacionalista tendenciosa e violenta... não contribuindo em nada para o nosso dia-a-dia...
Foram 3 anos de muitos desenhos animados, programas culinários e algumas séries... 
Confesso que às vezes sento no sofá e sinto vontade de ligar a TV, simplesmente por ligar, para encher (ou seria esvaziar?) a cabeça. E que acabei intensificando meu tempo no Facebook (já que não tenho a TV).
Mas o melhor é me ver "forçada" a prestar mais atenção nos meus filhos e também nas coisas que quero e posso fazer quando não tenho uma TV...
Os meninos estão desenhando mais, brincando mais com nossa cachorra, montando quebra-cabeças, pintando, jogando bola... 
Eu não sei mais nome de novelas, não sei mais quem são os personagens principais, não sei onde está tendo furacão ou enchentes, nem quem foi indicado ao paredão... E quer saber? Não sinto a menor falta!
Por ora é só... acho que preciso desligar o computador tb... Até!

domingo, 11 de agosto de 2013

A TV foi pro lixo?

Para enfrentar o hábito de ver TV direto, estamos trabalhando nestas questões agora: onde iremos colocar a TV (queremos tirá-la da sala, mas ainda não decidimos onde montar a nova sala de TV), que atividades fazer com as crianças (além de desenhar, criar quebra-cabeças, montar quebra-cabeças, criar e jogar jogos de tabuleiro, tocar e cantar, dançar, andar de bicicleta...), quanta TV ver por dia. Com o fim da assinatura, a TV está sendo ligada pra ver filmes (Ponyo, Castelo Animado, Nemo, A Era do Gelo 4... basicamente Disney e Estúdio Ghibli) e ouvir música. Não chega sinal da TV aberta também. Assim, temos mais controle sobre o tempo e aquilo que será visto (sobre a publicidade infantil que recheia a programação da TV, ver o post anterior). Como as crianças andaram doentes essa semana, acabamos passando muito desenho, pra facilitar no repouso deles. Quando estamos na casa de outras pessoas, acaba ficando difícil regular demais a TV, e o que procuramos fazer é levar jogos e atividades pra variar um pouco. Apesar do hábito dos canais infantis, as crianças estão lidando bem com a sua ausência, dizem que sentem falta deste ou daquele desenho, mas sem dramas. Livros com atividades variadas são uma mão na roda, tipo este aqui ó: