sábado, 24 de agosto de 2013

Feliz coincidência ou "Dostoiévski é o cara!"

Enquanto as crianças brincavam na praça, com novelos de lã e poesia e movimento, eu estava sentado em um banco, de longe, só observando. Quando interrompia a observação, continuava a ler O Idiota, do Dostoiévski, que peguei com os meninos na biblioteca municipal no início da semana. Vou transcrever abaixo alguns trechos (p. 91 e 92) que eu estava lendo exatamente naquela hora e que "parecem" ter a ver não só com o que acontecia na praça, mas com o momento geral pelo que passamos:

"Pode-se dizer tudo a uma criança - tudo; sempre me deixou perplexo a idéia de como os grandes conhecem mal as crianças, os pais e as mães conhecem mal até os seus próprios filhos."

"Referindo-se à 'profundidade terrível, incrível da compreensão' com que a criança 'de repente assimila - sem que se saiba de que modo - outras idéias que, pareceria, eram-lhe totalmente inacessíveis', ele [Dostoiévski] escreve: 'Uma criança de cinco, seis anos às vezes sabe a respeito de Deus ou do bem e do mal coisas tão surpreendentes e de uma profundidade tão inesperada que você conclui involuntariamente que a natureza dotou essa criança de certos recursos de aquisição de conhecimentos que nós não só desconhecemos, mas, com base na pedagogia, deveríamos quase refutar... ela possivelmente sabe sobre Deus tanto quanto você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal, sobre o que é vergonhoso ou lisonjeiro'."

"Dostoiévski escreveu no Diário de um escritor, fevereiro de 1876: '... não devemos ser arrogantes com as crianças, somos piores que elas. E se lhes ensinamos alguma coisa a fim de torná-las melhores, elas também nos ensinam muito e também nos tornam melhores já com o simples contato com elas. Elas humanizam a nossa alma com seu simples aparecimento entre nós'."

Já dá muito o que pensar, né?

3 comentários:

  1. Muita coisa pra nossa reflexão ,sim.Primeiro;Não existem coincidências mas sim conexão de energias.Depois,crianças não são" tábuas rasas" e mais uma infinidades de pensamentos me invadem...preciso reler Dostoiévski e preciso ,urgente,beijar meus netinhos.

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  2. Algo que acontecia ali naquela praça me levava a questionar os métodos.. E olha que acho bonito esse caminho que te leva a um lugar. Mas é que estivemos em meio aos novelos de lã. E novelos, quando desenrolados livremente pela praça e ainda, por crianças, podem se configurar em algum momento num labirinto colorido. Acho bonita a metáfora do labirinto para pensar nos caminhos e na flexibilidade para caminhar e errar inclusive. A experiência vai sendo vivida no dentro e fora do corpo.Praça, crianças, novelos, adultos, casas, árvores, chão, palco, colégio, lixo, banco, flor...tudo alí, sob a captura das percepções. É bom escutar o que elas dizem e fazem, porque elas dão pistas sobre como desenrolar, enrolar e desembaraçar aquilo que complicamos e queremos explicar com palavras. Sim, o Dostoiévski foi a sincronicidade daquele momento: "Elas humanizam a nossa alma com seu simples aparecimento entre nós'." Aprendizados do "serestarcom" Gratidão pelo blog e compartilhamentos de vocês dois: Ale e Luís Gustavo. Porque a escrita é também um jeito de entender o que se passa. Há braços! Fernanda

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  3. Essa idéia de labirinto é mesmo bem legal. Quem disse que precisamos saber o caminho ou achar sempre a saída? Talvez em alguns momentos a gente goste e precise mesmo é ficar enrolados...

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