segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Esperança

Nas últimas semanas, eu fui convidada a sair de minha pele, de minha casca, da minha proteção. Eu gosto de me aventurar, mas não costumo ser muito radical. Dessa vez não teve jeito. Me envolvi de corpo, alma e coração com uma história, de vida, de família, de confusão, de imprevistos, de falta, de incertezas. Achei que era eu quem ia ajudar e acabei descobrindo a generosidade em tantos outros lugares.
Uma família, 2 adultos, 5 crianças e mais dois bebês a caminho... que chegaram sem ser planejados mas que foram acolhidos apesar dos pesares. E que ainda dentro dos ventres começaram a enfrentar desafios: placenta prévia, incompatibilidade sanguinea, toxoplasmose, bolsa rota com 29 semanas, prematuridade...
Uma mulher que se envolveu com a história e foi mãe e avó de todos e adotou todas as dores como se fossem as suas próprias. E costurou, cuidou, abrigou, cozinhou, correu, chorou, socorreu e passou noites em claro.
Uma Unidade de Saúde, um Centro de Referencia de Assistência Social, um Conselho Tutelar, uma Escola, uma Delegacia, um suporte da Saúde da Mulher e da Criança da Secretaria de Saúde, uma Unidade de Atendimento Integrado, um Hospital Universitário, um grupo de amigas e uma rede social e um monte de profissionais que foram se envolvendo com a TEIA.
E eu, aprendendo todo dia, a cada dia vivendo uma nova aventura. Cheguei e não consegui mais sair, um capítulo novo da novela todo dia. Sempre com muita emoção. Foi sangramento, foi infecção urinária, foi ameaça de perda do emprego, foi falta de escola, foi internação de alto risco, foi trabalho de parto lento... mas também foi bercinho montado e enfeitado, foi vídeo de parto, foram conversas no whats up, foram vínculo e confiança criados...
E ao compartilhar a falta, a generosidade apareceu de todos os lados. Quanta gente disposta a ajudar! A família recebeu muita ajuda, a ponto de poder doar alguns pertences para outras famílias.
E hoje, depois de segurar meu coração na mão por quase 24 horas, de ansiedade, de dúvidas, de preocupação, de vontade de dar colo... eu choro de emoção, ao afirmar que eu acredito na possibilidade de uma pequena e singela flor se desabrochar no chão árido.
A menina caramujo, embotada em seu casulo, pequena e assustada, conseguiu parir. A equipe tecnicista e também desajeitada, conseguiu esperar por quase 24 horas e acreditou que ela seria capaz. E ela foi.
Eu não a ouvi gritar, eu não a ouvi reclamar, eu só a vi fechar seus olhinhos e suportar o Mundo em suas costas... Eu não estava por perto na hora que seus olhos se encontraram pela primeira vez com os da filha. Mas soube que elas estavam juntas, desde sempre.
Eu não sei como serão as coisas amanhã mas sei que não serão fáceis... Mas nem por isso é necessário desistir de lutar, de acreditar ou simplesmente de dar as mãos e caminhar ao lado.
Obrigada flor, pela caminhada nos corredores cinzentos, no dia de hoje.
Bem-vinda à força de ser mulher.