segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sobre punição

Eu achava que estava me controlando ao não punir fisicamente meus filhos por comportamentos inadequados (tento o máximo possível não encostar a mão de forma agressiva neles)... Sou contra a violência, qualquer que seja a sua forma de expressão. Já estudei bastante sobre o assunto e tenho mestrado e especialização nessa área de violência contra crianças e adolescentes.

Porém, a vida com nossos filhos nos ensina diariamente a repensar e a rever nossas atitudes. Dias atrás, li um texto que mexeu muito com minhas convicções: 

“(...) é bom ficar claro, que a punição, em qualquer circunstância e sob qualquer forma traz consequências ruins para a criança. A punição, seja batendo, seja colocando de castigo, seja através da fala ou mesmo de um olhar ensina para a criança que nosso amor por ela é condicionado. Ou seja, só a amamos quando ela se comporta da forma que nós achamos certo” 
(trecho do texto: "Há Tempos que Eu não Via um Pai bater em um Filho! do blog “Filhas e filhos” e que vale muito ser lido na íntegra)

Ao ler, me senti culpada e revi minhas atitudes. Nesse texto, o castigo ou o olhar de reprovação são colocados no mesmo balaio da punição física... Me pergunto: Será?

Quando leio um texto desse tipo me lembro que constantemente perco a paciência com meus filhos por motivos banais... principalmente quando eles não atendem a um pedido meu no momento exato que o faço. Se peço uma coisa mais de três vezes, minha reação "normal" é falar mais alto e até gritar para ser escutada... Também uso de chantagens, tipo, se não fizer isso não vai poder fazer aquilo... e coisa e tal. Falo isso com vergonha e aperto no peito, pois teoricamente sei que esse tipo de artifícios não ensinam nenhuma criança a se auto-gerir, apenas a condiciona a fazer aquilo que esperamos dela... E muitas vezes fazemos isso com a "melhor" das intenções, com a desculpa de que precisamos educá-las e colocar limites. Mas a questão é: o que nos tira do sério? Realmente agimos para educá-las ou agimos apenas para satisfazer nossos desejos? Os limites e punições realmente dizem respeito a comportamentos inapropriados das crianças ou somos nós que não conseguimos escutar e respeitar o tempo e momento de nossos filhos?

Em consonância com essas minhas questões, segue um outro texto provocador: "Seu filho te tira do sério? Isso é sério!". Um texto que volta o descontrole para nós, adultos, e que nos devolve as nossas frustrações e os nossos problemas.

Como disse, sempre fui contra a violência, seja ela física, sexual, psicológica ou por negligência. Aqui em casa nunca consideramos bater como uma opção de método de educação. Somos contra tapas, puxões de orelha, "coques"... não acreditamos que isso ensine bons comportamentos. Acreditamos que quando batemos estamos ensinando aos nossos filhos que esse é um meio de resolver conflitos e que é usado por alguém mais forte sobre um mais fraco... Ensinamos ele a bater... Confesso que na hora da raiva sinto vontade de "esganar a criatura", que quando eles ferem meu orgulho de boa mãe ou não me obedecem tenho vontade de segurá-los à força e obrigá-los a agirem como eu gostaria. Mas, confesso ainda coisa pior e inaceitável, que é o fato de mesmo sendo contra a violência, pessoalmente e profissionalmente, já dei uns tapinhas nas mãozinhas deles (quando digo tapinhas não estou tentando amenizar a violência do ato não, pois a intenção é a mesma de um tapa mais forte) por total falta de controle meu. Devo ter batido umas duas vezes em cada um, ao longo de seus 6 e 3 anos. E me sinto péssima ao reconhecer que fiz isso simplesmente por falta de controle e sempre relacionado a alguma coisa que eles fizeram e me machucaram fisicamente. Confesso minha culpa e não tentarei justificar o ato. Ao confessar pretendo mostrar que também cometo falhas e que não pretendo ser modelo de boa mãe. Mas que estou disposta a repensar e melhorar sempre... E dessa vez, revendo mais ainda outros atos além da questão física, repensando minhas "chantagens" e castigos (que felizmente diminuímos quase a zero por aqui depois que desligamos a TV... que engraçado, ainda não tinha feito essa relação, mas é muito verdadeira, depois que desligamos a TV, pararam-se os castigos... acho que isso dá um outro post! , quem sabe o Luis Gustavo não faz essa reflexão pra nós, hein amor?!)

Seguem aí mais dois outros textos muito bons sobre o tema e que não posso deixar de compartilhar: o primeiro: "Castigo para pensar nem pensar!", questiona a eficácia do castigo utilizado como uma forma da criança pensar sobre o que fez e o segundo: "Seu filho é normal como você", é uma bela lição e reflexão sobre os comportamentos "inadequados" de nossos filhos a partir de uma analogia com as nossas próprias reações frente coisas que nos incomodam... Leiam, por favor!

Para terminar, queria compartilhar uma frase que acompanha a minha relação com o meu filho mais velho, o Yuri. Não sei exatamente quando começamos a nos comunicar assim mas já tem mais de três anos com certeza, e sinto que isso foi muito significativo para ele, sendo que, vira e mexe, ele me investiga para saber se ainda continuamos assim.. e que é basicamente separar a raiva do amor e sempre reforçar o amor... Quando ele faz algo que não devia e eu chamo a atenção e fico nervosa a gente lembra da frase, que é a seguinte: "Eu te amo sempre, não gosto disso que você fez, mas eu  continuo te amando". Então em dias que eu nem lembro ele vira e me lembra, "mamãe você me ama mesmo quando eu faço bagunça, né?". Acho que é isso.

Até a próxima inquietação!

E para quem ficou curioso, pode acessar minha dissertação de mestrado  por aqui

3 comentários:

  1. Alessandra,
    Depois que descobri esse blog, volta e meia dou uma passadinha! Essa temática de punição é bem delicada não é mesmo?! Muitos pais procuram a velha receitinha: o que é certo/ adequado? O que é errado/inadequado? Seria até bom se fosse simples assim não é mesmo?
    Você me provocou a pensar sobre muitas questões. Gostei muito de ler os seus relatos e perceber a sua sensibilidade de questionar algumas atitudes, mostrando assim que podemos e devemos repensar sempre sobre as nossas ideias e modos de lidar com as crianças e com a nossa necessidade de controle. Aliás, quanta necessidade de controlar!!!
    Agradeço a vocês pelas contribuições e iniciativa.
    Abraços,
    Thatiane D. M. Arantes

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    1. Valeu Thatiane, acho que faz parte do crescimento a gente se questionar sempre, não é mesmo? Abraços!



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  2. OLA.MARAVILHOSA A SUA DISSERTAÇÃO. COM RELAÇÃO AO SEU TEXTO SOBRE PUNIÇAO QUAL O EMBASAMENTE CIENTIFICO VOCE UTILIZOU OU AUTORES OU É DA SUA PROPRIA AUTORIA. sERÁ QUE A ANALISE DO COMPORTAMENTO(B.F. SKINNER) PODERIA PENSAR ASSIM SOBRE O QUE VOCE ESCREVEU SOBRE PUNIÇÃO.(ny0@ig.com.br)

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