Era uma vez uma cidade de médio porte (700.000 habitantes),
promissora e em franco desenvolvimento e crescimento... Era uma vez uma cidade
do Triângulo Mineira famosa por seu moralismo e tradicionalismo do interior...
Era uma vez uma terra fértil, gentil e próspera... Era uma vez Uberlândia e sua
diversidade...
Nessa cidade, eu moro e me invento há 34 anos. E nessas últimas semanas me vejo
completamente absorvida por um redemoinho que passou por aqui e levantou
poeira, fantasmas e uma triste realidade: nossos hospitais particulares (depois
eu conto sobre o sistema público!) desconhecem o PARTO HUMANIZADO! E pior!
Proíbem em suas dependências que as mulheres tenham esse direito de escolha
garantido.
Dia 09 de setembro de 2014, o único hospital particular da
cidade que aceitava que algumas médicas conscientes e envolvidas com seu
trabalho pudessem realizar uma assistência obstétrica humanizada e em
conformidade com todas as diretrizes e regulamentações dos Órgãos de Saúde de
referência Nacional e Internacional (Organização Mundial de Saúde, Ministério
da Saúde, Política Nacional de Humanização...) decidiu proibir o Parto
Humanizado... assim, sem nenhum argumento coerente... meio que alegando o
incômodo dos outros pacientes com os “gritos” das mulheres e a falta de
estrutura adequada e ainda colocando no meio palavras sobre atos irregulares e
ações judiciais contra o Hospital.
Mas ao fazer isso, ele relacionou de forma errada (e tenho
certeza que proposital), essa irregularidades e até riscos de erros médicos e
processos, com o parto humanizado. SACANAGEM! E ao fazer isso, ele nos dá o
direito de resposta, porque as irregularidades do Hospital nada têm a ver com
os partos e sim com cobrança indevida (e a parte) dos pacientes com convênio
médico... tem uma baita ação na Justiça por causa disso e é muito feio omitir
esses dados da conversa!!! Já que querem falar das irregularidades, que falem
quais são!!! Ah!!! E sobre os riscos para os bebês e futuros processos, cabe
DESTACAR QUE OS PROCESSOS QUE EXISTEM CONTRA O HOSPITAL RELACIONADOS A PARTOS
SÃO TODOS DE CESÁREAS OU PARTOS NORMAIS CONVENCIONAIS (os quais eles querem manter!!!)
e AINDA NÃO EXISTE NENHUM PROCESSO NA CIDADE CONTRA NENHUMA DAS MÉDICAS QUE
REALIZAM ATUALMENTE O PARTO HUMANIZADO NA CIDADE. Então, senhores diretores do
Hospital Madrecor, se querem evitar danos e riscos às mulheres e bebês, façam o
favor de se atualizarem e buscarem informações respaldadas na Medicina Baseada
em Evidências! Estudem! Conheçam primeiro o que é o parto humanizado, como é a
assistência e quais são as porcentagens de “sucesso”, antes de divulgarem
informações truncadas!
Sobre a falta de estrutura adequada para o parto
humanizado... Isso aí até que eu concordo, porque realmente o Hospital e
Maternidade Madrecor NÃO ESTÁ REGULAMENTADO PARA FUNCIONAR COMO MATERNIDADE!!!
(Assim como nenhum outro hospital da cidade). E precisamos falar sobre isso.
Desde 2008, existe uma Resolução
Nacional, a RDC-36, que dispõe sobre
Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e
Neonatal, com a qual qualquer Hospital que pretenda oferecer assistência obstétrica
deveria estar de acordo. E nela, o parto humanizado, a sala PPP (pre-parto,
parto e pós parto), a presença do acompanhante de escolha da mulher, a
assistência humanizada ao bebê e todo o resto que vocês estão querendo proibir,
está contemplado... Vale dar uma lida toda semana, para ver se abre alguma
possibilidade de diálogo e coerência no discurso! E a RDC-36, é só o começo!
Hoje existem várias portarias e estratégias recomendadas pelo Ministério da
Saúde que estão todas diretamente envolvidas com a Humanização do Parto e
Nascimento e todas com respaldo científico garantindo que a assistência
individualizada, a não intervenção instrumental ou medicamentosa sem
necessidade, o respeito ao processo fisiológico, o ambiente acolhedor e a
presença de pessoas de confiança da mulher e amorosas reduzem (E MUITO) o risco
de complicações durante o nascimento.
Redução de mortes maternas e neo-natais, vocês adoram falar
sobre isso e apesar do excesso de cesarianas, esses índices continuam altos!!!
Proponho a gente conversar com estatística, senhores diretores das Maternidades
de Uberlândia. Topam? Pegamos o número total de nascimentos, separamos os humanizados,
das cesáreas eletivas e partos convencionais (adorei essa denominação, rs) e
comparamos as porcentagens das complicações... Vamos ver quem ganha??? Não
estou nem sugerindo uma pesquisa de satisfação das usuárias, mas se quiserem,
tb podemos acrescentar. Lembrando que em nenhum momento eu disse que não existe
risco no parto humanizado... é claro que existe e não o descartamos, lidamos
com o evento de forma consciente, com todo suporte técnico e atenção que o
mesmo requer, e talvez até por isso, o risco pode ser minimizado e identificado
rapidamente... PARTO HUMANIZADO NÃO É PARTO DESASSISTIDO! NÃO É PARTO SEM
EQUIPE DE SAÚDE! NÃO É PARTO SEM ESTRUTURA! NÃO É PARTO COM DOR!!! É um parto
com muito acompanhamento e assistência, praticamente o tempo todo, mas que os
recursos e intervenções só são utilizados se necessário, depois de avaliação
individual e delicada do caso e com o consentimento das pessoas mais
interessadas na saúde e bem estar do processo: a mulher, seu acompanhante e o bebê.
E se for o caso de fazer algum procedimento (incluindo uma cesárea), que ele
seja feito e será muito bem vindo... Temos histórias de partos humanizados com
ocitocina, com centro cirúrgico, com analgesia, com episiotomia, com cesariana,
com UTI neo-natal... sim, temos, e nos orgulhamos de contar que isso fez parte
da história daquele nascimento e não dos protocolos genéricos do hospital. E
temos mais uma porção de histórias de partos naturais, sem nenhuma intervenção
e igualmente MARAVILHOSAS!!! Ai, como eu queria que vocês, senhores diretores,
nos permitissem contar essas histórias, uma a uma... Ai, como eu queria que
vocês sentissem na pele aquela onda de amor que preenche uma sala, uma casa, um
hospital, o Universo, quando nasce um bebê de forma amorosa, respeitosa, acolhedora,
HUMANIZADA...
E quando eu digo “senhores diretores”, incluo aqui todos
diretores de Hospitais que ainda desconhecem o parto humanizado... e ainda, todos
os gestores e todos os envolvidos com a saúde e que as vezes fazem comentários
infundados e descabidos a esse novo paradigma da assistência ao parto e
nascimento.
Mas preciso também agradecer, em nome de todo o Movimento em Prol
da Regulamentação do Parto Humanizado em Uberlândia, que surgiu a partir desse
acontecimento específico do Madrecor. Sim, as desgraças nos mobilizam a agir, a
nos unir e a nos fortalecer. E foi isso que está acontecendo por aqui. Uma grande
manifestação está acontecendo, nas redes sociais e fora dela, por causa disso.
Muitas mulheres e homens revelando suas lindas e emocionantes histórias de
partos humanizados e pedindo para que a gente possa continuar tendo essa
possibilidade de escolha... Muitas barrigudas reivindicando seus direitos...
Muitas profissionais engajadas e dando apoio e suporte técnico e científico ao
Movimento... Nosso próximo passo é uma Manifestação Pacífica em frente ao
Hospital no sábado, dia 27/09, às 16 horas... E semana que vem, uma Audiência
na Promotoria com o Hospital em pauta... Quem quiser acompanhar e contribuir
mais de parto, junte-se no face, por aqui.
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