Sou doula de formação há dois
anos. Descobri o conceito de humanização do parto e nascimento um pouco antes
e, portanto, após o nascimento de meus dois filhos por cesáreas
desnecessárias... Sim, eu sempre desejei ter parto normal e sim, acabei em
cesárea por conta do modo de funcionamento do nosso sistema obstétrico. Na
minha época me lembro da minha angústia e conflito quanto ao que lia sobre “as
recomendações da Organização Mundial de Saúde para o parto e o bebê” e as
orientações, condutas e indicações que recebia dos médicos em relação à
gestação, parto e maternidade...
Meus filhos nasceram mas minha
inquietude continuou, até que as coisas começaram a se revelar para mim...
Descobrir o conceito de parto humanizado foi descobrir um novo universo, cheio
de possibilidades e muito em sintonia com a minha prática e experiência
profissional como psicóloga. Acreditar na força e na capacidade de si, poder
assumir sua história, se informar e ser capaz de escolher o seu caminhar...
Fazia muito sentido isso tudo dentro de mim.
Me aproximei do grupo de
profissionais que iniciavam seus trabalhos em Uberlândia, comecei a frequentar
os grupos para aprender e também porque estar nesse meio me fazia bem... Criei
laços e amizades e comecei minha formação como doula.
Mas, afinal, o que uma doula faz?
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Eu,Thais e a médica, foto de Alan |
Com a realização dos partos nos
hospitais e consequentemente a transformação desse evento em um ato médico,
nós, mulheres, deixamos de saber sobre parto. Desaprendemos a escutar o corpo,
deixamos de reconhecer as fases e o desenrolar de um trabalho de parto e mais
ainda, passamos a sentir medo e receio de viver esse momento. Aprendemos a nos
sentir impotentes, incapazes, imperfeitas... e acabamos por entregar nossos
corpos e nossa alma para um “salvador”. Sim, diante do horror inventado,
preferimos fechar os olhos e torcer para que tudo acabar logo, sem sentir, sem
participar, sem viver!
A doula surge nesse contexto para
possibilitar uma nova engrenagem. É uma mulher que se nutre de conhecimento e
confiança no corpo feminino e se disponibiliza para estar ao lado da gestante e
contribuir para que essa se reaproprie de sua sabedoria e conhecimento perdido.
É uma profissão necessária ao contexto, pois a função principal da doula é
ENXERGAR a mulher. Enxergar e servir essa mulher, no que ela necessita para
enfrentar de forma mais autônoma e amorosa possível esse momento.
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Eu e Mari, foto de Fernando |
Uma doula faz encontros com a gestante durante a gestação para conhecer a mulher, o acompanhante e a família, criar vínculo e fornecer informações e preparar a mulher para o parto. Uma doula acompanha todo o parto, dando apoio e suporte para a mulher e acompanhante no que for necessário (a doula orienta, acalma, ajuda a reconhecer os sinais, sugere posições, faz massagens e outras técnicas de alívio da dor, dá agua,
Eu e Aracéli, foto de Cíntia |
Ser doula é estar aberta ao novo
e ao desconhecido. Cada parto é um. Cada parto traz sua magia, sua energia e
seu desconhecido. Estar aberta a isso é o grande desafio.
Gratidão às mulheres e homens que
me escolheram para estar presente num momento tão especial e único em suas
vidas. Aprendi muito com cada um e carrego em mim a lembrança viva de cada vida
que vi chegar... Me sinto honrada de pensar, trabalhar e ver nascimentos. Nada
é mais emocionante que a chegada de um novo ser nessa vida, presenciar um corpo
e uma alma sair de um outro corpo e uma outra alma, sentir a vida assim tão
intensa e potente.
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Eu e Juliana (foto de José Neto Fotografia Criativa) |