quinta-feira, 14 de julho de 2016

Despedida, em casa, naturalmente.

Ontem o tempo novamente parou
Me chamaram e eu fui
Uma visita comum
Alguns sinais e sintomas leves
Desconforto do momento e do estado
O médico chegou junto, avaliou e partiu depois de algumas recomendações
Até cogitou encaminhar para o hospital, "lá tem mais aparelhos"
A família não planejava isso
A mulher não queria, estava segura em casa
E foi explícita ao recusar essa possibilidade
Ela não queria sair de casa
Nada que fugisse do esperado e aguardado pela condição e tempo que se encontrava
Familiares presentes, se revezando no cuidado
Por um tempo, ela parecia não encontrar uma posição que aliviasse seu desconforto
Até que ela conseguiu se aconchegar
Em sua cama
A melhor posição para relaxar, aquela que ela escolhera desde muito tempo
A fisionomia e a ansiedade foram passando
Relaxando
Acalmando a preocupação de todos
Que ficaram ali, por perto, mas sem tensão
"Deixa ela descansar um pouquinho"
Uma foi preparar o almoço
Outra foi colocar um sapato mais confortável, conversar com os filhos
Um ficou sentado em sua cabeceira, velando seu sono
Eu, sentindo uma paz, me aproximei do quarto
Entrei e pelo olhar do acompanhante senti o "Portal"
Já conhecido, da passagem... da chegada e da partida
"Acho que está chegando a hora"
Ela, semblante tranquilo, suave, sem sofrimento
Passou pelo Portal
E se transformou          


Poderia ser o relato de um parto, domiciliar

Partos humanizados, naturais, costumam me levar a um estado e uma emoção muito próximas da que eu senti ontem
Dessa gratidão por presenciar uma energia, um momento e um estado tão sagrado
É algo impossível de descrever em palavras
É algo que nos deixa entorpecidos, em um outro tempo, em outro estado vibracional
É sentir a Vida, sua força e fragilidade

Poderia ser o relato de um parto, domiciliar

Mas foi a despedida de minha avó
Essa menina sapeca
Que se despediu da Vida, com a doçura e serenidade de sempre
"Sem dar trabalho pra gente" (preocupação constante)
Ao lado de quem convivia diariamente
Sua família
Rostos e corações conhecidos
Em sua casa, em seu quarto, em sua cama
Com o barulho de panelas da minha tia fazendo o almoço
Com a minha mãe, dando a firmeza e a segurança que ela tanto dependia
Com os netos e bisnetos, dando beijinhos, abraços e as bênçãos diárias
E finalmente se despediu
Na presença de meu pai (seu genro) e minha
Em silêncio, em paz, serena
E logo depois, todos a sua volta
Em sua casa, em seu quarto, em sua cama
Filhos, netos, bisnetos
Palavras amorosas, preces, beijinhos e carinhos

Vó, vai com Deus
Como o Yuri disse ontem, você vai continuar aqui, em nossos corações
Em cada rosa que brotar nas roseiras da casa de minha mãe
Toda vez que a gente for brincar no quintal
Toda vez que eu não precisar atravessar o portão para ir te dar um beijo
Toda vez que eu tomar um café com a tia Ivete
Toda vez que a minha mãe não precisar largar tudo e todos para ir te dar o jantar
Você vai continuar aqui
No dia-a-dia, na presença e nos encontros rotineiros da família
E nos dias de festa... no bolo sem chocolate
Nos cuidados com o "Lôro" e com as couves
No olhar atento
Na preocupação para a gente sempre comer
E se eu não estava ficando magrinha demais (KKKKK!!!)
Na implicância com o jogo de cartas
Na cobrança se a gente ficasse muitos dias sem te ver
Vó, vai com Deus
Mas continue aqui!!!!


4 comentários: