segunda-feira, 11 de julho de 2016

Parto, cachoeira e café

Ela não me era estranha
Eu já a tinha visto parir uma vez
Ela já atravessara o portal com a minha presença

Uma segunda gestação
Um pouco mais de segurança no caminho
A decisão por um parto domiciliar

O desejo da piscina

E assim iniciamos a nova jornada
As contrações iniciaram um dia antes
Mas nas mensagens ela transparecia tranquilidade
Contrações ainda espaçadas e sem ritmos
Deu até para tirar as fotos agendadas
Deu para passar na casa da tia
Deu para ir ao shopping
Deu para deitar e dormir

Ás três da manha, o chamado
Eu, com mala pronta,
me apressei,
com toda preparação do dia anterior,
suspeitava que seria rápido

Em seu apartamento
Com o filho de 2 anos dormindo em sua cama
Ela buscava um canto em sua sala
Um chá, uma massagem, uma foto
O abraço do marido
A vontade do chuveiro

Um pouco mais e a chegada das duas enfermeiras
Material, equipe e ambiente completos
A piscina!!!
Já na sala, vazia
Panelas no fogo e revezamento de todos para enchê-la
Não vai dar tempo... a gente pensava, mas continuávamos nossa tarefa de nos manter ocupadas
E envolvidas no ritmo e na exaustão do trabalho

Música, vela, massagem
Ela que tentou sair do banheiro
E voltou
Para o canto que encontrou
No apoio da pia no banheiro

A doula, enchedora de piscina, DJ, massagista
Buscou um canto atrás dela
E a apoio nos primeiros puxos
A lembrança do seu primeiro parto em pé
A sensação de que estava muito perto
O barulho de cachoeira
E a água abundante e transparente
Escorrendo em suas pernas

Doula troca de lugar com o marido e a enfermeira
Sim, era um pequeno canto, num pequeno banheiro
A outra enfermeira na porta
A doula atrás, câmara fotográfica nas mãos
Um gemido e um choro de criança
Que vinha forte e do outro quarto
Seu filho mais velho acordava
Enquanto ela paria seu novo filho

Em pé, ela amparou sua nova cria
O pai, amparou o mais velho
E a família se completava
Assim, com cheiro de café preto recém coado
Nos primeiros raios de novo dia

Ela se lembrou da piscina
Que já estava quase pronta
Para não ser necessária
Naquele momento de tanta beleza
Naturalidade e espôntaneidade

Já na cama
Com a nova cria no peito
E uma chata dor na lombar
Ela come uma canjica, que a doula aprendeu a temperar ali, naquele dia
Sorri e agradece
Pela Vida que se inicia

Doula, encantada, pelo barulho da cachoeira




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