Tenho lido muita coisa sobre educação atualmente (mais até do que eu sempre li, pois me interesso demais por esse assunto). Gostaria de compartilhar com vocês uma das últimas coisas que li e que trata de um assunto muito interessante: podemos ou devemos obrigar alguém a aprender algo? Não é um tema diretamente ligado à TV, embora esteja relacionado ao contexto geral, que tem a ver com as escolhas que fazemos do que fazer com nosso tempo, as escolhas das atividades e fontes de aprendizado para nós e nossos filhos etc. Posto aqui um artigo da educadora Cathrine Gobron, diretora da North Star, que acabei de traduzir. Se você quiser ler o original, clique aqui.
Galinhas e ruas: por que a instrução compulsória é desnecessária
Catherine Gobron
– Diretora da North Star: Aprendizagem auto-dirigida para adolescentes
Eu trabalho num programa educacional
para adolescentes no qual os estudantes têm total controle sobre seu próprio
horário e não têm nenhuma exigência acadêmica. Somos muito questionados sobre
como isso poderia funcionar. Uma pergunta frequente é: “Como as crianças vão
aprender a fazer coisas de que elas não gostam se elas não são obrigadas a
fazê-las?”
Você deveria pensar que a educação
formal deveria buscar algo um pouco mais elevado do que ensinar as crianças a suportar
as obrigações. Mas a pergunta
surge o tempo todo.
Aqui está a minha resposta:
Tarefas
desagradáveis são abundantes. A vida é absolutamente repleta de
coisas que preferimos não fazer. Lavar
roupa, lavar louça, passear com o cachorro, aspirar o carro, aparar a grama,
escrever bilhetes de agradecimento para a sua avó, trocar o óleo do carro,
negociar com a companhia de seguros... Há uma lista infinita de coisas que
fazemos apesar de não querermos fazer. De vez em quando, adiamos uma ou outra
dessas necessidades, e sofremos as consequências, seja viver temporariamente
com a louça suja ou ter o carro apreendido por não ter pagado as multas. Não
precisamos praticar fazer coisas de que não gostamos, e não precisamos praticar
sofrer as consequências. A vida está cheia das duas coisas. Elas dificilmente podem ser evitadas.
Além disso, em minha experiência não
vejo nenhuma diferença entre aqueles que foram à escolar e aqueles que não
foram no que diz respeito à habilidade de realizar atividades desagradáveis. Anos
de lições monótonas e exercícios insípidos não parecem aumentar a probabilidade
de alguém manter os dentes limpos regularmente, por exemplo. Anos de tarefas
obrigatórias e rotineiras podem aumentar a resignação de uma pessoa a uma insossa
vida profissional adulta, mas essa é uma meta digna para a educação?
Por que a galinha atravessou a rua? (Para
chegar do outro lado, claro.) Por que fazemos qualquer coisa? Simplesmente para
fazer, ou porque há algo do outro lado que pensamos valer a pena ter ou
conhecer ou experimentar. Ninguém precisa fazer pessoas (ou galinhas)
atravessarem a rua. Você pode ajudar alguém a alcançar sua meta olhando um mapa
com ele ou ajudando-o a pensar em seus planos. Não há necessidade de fazê-lo
atravessar nenhuma rua em especial, metaforicamente ou não. Na verdade, tentar
fazer isso é uma boa maneira de evitar que uma pessoa deseje atravessar ou que
obtenha algo na jornada.
Obrigar as pessoas a fazerem coisas que
não gostam as encoraja a não gostar daquilo a que estão sendo obrigadas, ainda que
essa coisa seja divertida ou valiosa. Se uma pessoa encontra uma rua que vale a
pena atravessar, ela irá atravessar. Os ajudantes em sua vida podem ser úteis
acreditando que ela pode fazer isso e que irá fazer, e dizendo isso a ela. Outras
maneiras úteis de ajudar se tornarão evidentes por meio da interação e da
discussão.
Como os jovens irão aprender a fazer
coisas de que não gostam? Estabelecendo suas próprias metas e tendo confiança
para trabalhar por elas. Não há necessidade de procurar ou criar desafios ou
obstáculos desagradáveis. Eles vão encontrá-lo. A pessoa que é motivada por
seus próprios desejos e ideais irá trabalhar em meio e ao redor dos obstáculos.
A prática consiste em fazer.
Todos os dias em meu local de trabalho
eu vejo adolescentes ignorarem jogos e diversão em seu caminho para a aula. Por
que os adolescentes iriam para a aula quando eles podem brincar lá fora ou
fazer outra coisa mais legal? Porque eles
querem. Não há necessidade de obrigá-los. As crianças que não estão na aula
estão fazendo outras coisas importantes, que poderiam ser qualquer coisa, desde
fazer amigos até juntar coragem para encarar consequências.
Aprendizagem não-compulsória se
beneficia de reflexão, abertura, apoio e discussão. Obrigar é desnecessário, e
mesmo contraprodutivo, para o aprendizado.
Quando pensamos em nossa própria vida
adulta, esses argumentos são óbvios. Nós fazemos coisas que somos motivados a
fazer e nos sobressaímos nas coisas de que gostamos. Crianças também.
Vou ter que reler várias vezes,mas acho que esse é um bom assunto pra reflexão,que provoca mudanças.....
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